Thales Alenia Space, proposta para o satélite brasileiro
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Thales Alenia Space, proposta para o satélite brasileiro

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(Infodefensa.com) R. Caiafa, Roma - O Decreto Presidencial Nº 7.769, de 28 de junho de 2012, estabeleceu as linhas básicas de gestão, planejamento, monitoramento, construção e lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), e da implantação da sua infraestrutura de solo no Brasil. Este programa, considerado estratégico pelo governo brasileiro, envolve a participação do Ministério da Defesa, Ministério das Comunicações, Telecomunicações Brasileiras S.A (Telebrás), a Agência Espacial Brasileira (AEB) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O SGDC, quando no espaço, irá operar tanto na banda Ka como na banda X. Na banda Ka, usada para comunicação de dados pela Telebrás, serão disponibilizados 39 spots de 450 km e 10 spots de 900 km de cobertura. A parte de comunicação do satélite terá capacidade de 100 Gbps (gigabytes por segundo). Já a banda X é uma faixa de frequência (SHF - 8 a 12 GHz) para comunicação por satélite privativa para uso militar criptografado. Seu uso se daria em projetos estratégicos como o PROTEGER (defesa da infraestrutura estratégica nacional), o SISFRON (vigilância de fronteiras) e o SISGAAZ (vigilância da Amazônia azul).

Para viabilizar o processo, foi criada em maio de 2012 a Visiona, uma associação entre a Embraer S.A, que detém 51% do capital, e a Telebrás, que possui 49% das ações. A empresa atuará como integradora do sistema SGDC, que visa atender às necessidades de comunicação satelital do Governo Federal, incluindo o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) e um amplo espectro de transmissões estratégicas na área de Defesa. A Visiona recebeu, no início de abril corrente, as propostas das empresas interessadas em competir no fornecimento do SGDC, e após criterioso exame, baseado em requisitos técnicos operacionais, econômicos e de transferência de tecnologia, pré-selecionou três concorrentes: a Mitsubishi Electric Corporation-MELCO (Japão); a Space Systems/Loral (Estados Unidos-Canadá), e a Thales Alenia Space (França-Itália). Segundo o planejamento estabelecido pelo governo brasileiro, o SGDC deverá estar operacional até o dia 31 de dezembro de 2014. Espera-se o anúncio do consórcio vencedor pelo governo brasileiro no final do mês de julho deste ano.

Construir um satélite e depois testá-lo em solo com o rigor exigido pelo alto grau de tecnologia envolvida, transportá-lo em segurança para a o centro de lançamento onde será feita a sua integração ao lançador (que dependendo do modelo sofre restrições de janelas de lançamento), tudo em pouco mais de dois anos (no caso do SGDC), é uma missão com muitos desafios e que requer um parceiro industrial capacitado em todas as fases do processo. Além disso, devem ser observados os critérios estabelecidos de transferências de tecnologias envolvidas, o suporte ao satélite durante sua vida útil e a qualificação de mão de obra brasileira envolvida na sua operação e uso dos serviços gerados. O valor alocado pelo Plano de Articulação e Equipamentos de Defesa (PAED), referendado pelo Livro Branco de Defesa para a aquisição do satélite, instalações associadas e lançamento está orçado em mais de R$ 1 bilhão.

Thales Alenia Space (TAS)

A TAS é resultado da aliança espacial entre o grupo francês Thales (67%) e o conglomerado italiano Finmeccanica (33%), formalizada em junho de 2005. O outro componente da aliança entre os dois grupos é a Telespazio, unidade de serviços espaciais controlada pela Finmeccanica (67%), com a Thales detendo os 33% restantes. A empresa tem importante presença no Brasil, e desde 1997 possui uma subsidiária no País, vários teleportos, sendo que o principal está localizado no Rio de Janeiro (Itaboraí), e escritórios regionais em São Paulo, Porto Alegre e Cuiabá, mais bases técnicas de manutenção espalhadas pelo Brasil. A Telespazio é hoje a quarta maior operadora brasileira no setor das telecomunicações satelitais, com ampla oferta de soluções avançadas e soluções multimídia, e conta com clientes não apenas no setor privado, como a Oi e Telecom, mas também governamentais, como algumas polícias estaduais e as Forças Armadas. Para o Comando da Aeronáutica, por exemplo, fornece serviços VSAT (Very Small Aperture Terminal), em banda Ku, e imagens radar para o Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM); no setor de observação da Terra via satélite, comercializa no Brasil, como representante da e-GEOS, os produtos da constelação radar COSMO-SkyMed.

As instalações da TAS em Cannes, sofisticado balneário da Riviera Francesa próximo a cidade de Nice, ocupam um conjunto de prédios de uma antiga fábrica de hidroaviões que ali existiu no final da década de 1920 do século passado. Hoje, são os modernos laboratórios de acústica, vibração (shaker), aferição de emissões eletromagnéticas, enormes autoclaves para a realização de testes que simulam as radicais mudanças de temperaturas encontradas no espaço, linhas de montagem e as bancadas de integração e testes de satélites que movimentam o local, tudo gerenciado com rigoroso controle de qualidade e limpeza clínica. Na produção dos satélites são utilizados materiais como a fibra de carbono e o alumínio espacial, formando uma espécie de sanduíche honeycomb (estrutura de favos) extremamente rígido e muito leve. Sobre esta base cortada em diferentes formas e detalhadamente preparada, quilômetros de cablagens, dezenas de atuadores, motores, painéis solares, computadores e sensores (avionicos) e propulsores com seu combustível, que formam os chamados payloads (carga paga), são instalados. Estes engenhos são montados de forma cirúrgica por pessoal altamente qualificado e só a fase de testes após a construção costuma consumir pelo menos 10 meses de trabalho intensivo.

Infodefensa Brasil visitou o Centro de Integração de Satélites da unidade de Cannes, onde puderam ser vistos diferentes estágios de produção de vários satélites contratados, dentre outros, o MSG4-MTM Meteosat 2ª Geração, o empreendimento de telecomunicações com ênfase em defesa e segurança doméstica binacional Athena-Fidus (França e Itália), o observador dos oceanos Jason 3, que utiliza a multiplataforma Proteus, e o satélite do programa militar turco Gokturk, primeiro a ser empregado para observação terrestre naquele país e dotado de instrumentos ópticos de alta resolução. Destaque para a bancada de testes de aviônicos, um dos pontos focais de transferência de tecnologia proposta para o Brasil pela TAS. A seguir, foram visitados o prédio do centro óptico, totalmente vedado e a prova de vibrações (local onde estão sendo fabricados itens ópticos e eletrônicos do Programa Helios e da constelação Plêiades), e a sala de integração de painéis solares, a fonte de energia que mantém o satélite recebendo e emitindo sinais durante sua vida útil no espaço.

No encontro posterior com Jean Loic Galle, CEO da TAS, este fez questão de destacar as características da proposta de transferência de tecnologia e a importância do País como membro do chamado BRICS no cenário internacional “Não se trata de off-set, trata-se de capacitar plenamente o Brasil nos processos necessários para que as empresas participantes absorvam a transferência real tecnologia em aviônicos, software dedicado, integração de satélites, ópticos e radares usados em vigilância, etc. É uma negociação de governo a governo (esperamos) para definir o nível de cooperação espacial desejado. No dia 12 de junho, o governo francês irá se reunir com o vice-presidente Michel Temer para discutir aspectos cooperativos no setor militar, com o apoio do Ministério da Defesa Francês, na questão de telecomunicações militares, e na área comercial, questões relativas ao trabalho conjunto entre a Agência Espacial Europeia e a AEB, uso da banda K para fins meteorológicos, e o entendimento, já em fase avançada, com a Universidade Federal do ABC (UFABC) para que seis estudantes de PhD dessa instituição de ensino viagem para intercâmbio na França, no projeto aeroespacial, dentro do programa Ciências Sem Fronteiras, do governo brasileiro”, afirmou o executivo, que também estará presente. Para ele, o Brasil pode vir a representar futuramente 5% do budget mundial da TAS, cerca de 100 milhões de euros/ano, ao se tornar parte da cadeia de suprimentos como resultado da capacitação realizada com a transferência, obtendo assim sua independência para criar novas tecnologias e atendendo contratos de produção dentro da sua área de influência.

Em Roma, Infodefensa Brasil conheceu a unidade da TAS especializada no desenvolvimento e fabricação de soluções que utilizam radares de altíssima resolução (uma especialidade dos italianos), capazes de gerar imagens de observação e exploração da superfície terrestre que independem das condições climáticas ou da presença de luz, ponto fraco dos sistemas ópticos. Exemplo desta performance, um satélite Sentinel 1 de duas toneladas e meia, dotado de radar de abertura sintética (SAR), e baseado na plataforma PRIMA estava bem adiantado no seu processo de construção e sendo submetidos a testes de câmara de vácuo. Esta unidade será lançado ao espaço em 2014 por um foguete Soyuz, sendo que dois deles já se encontram em órbita. A seguir, foi mostrado o centro de integração de antenas com dois satélites do tipo O3b de comunicações em diferentes etapas de montagem. Um deles está previsto para ser lançado em Kouru (Giana Francesa) já no mês de julho próximo. E, um local importante, a sala de testes de aviônicos de missão recebeu especial atenção, por ser considerada pela TAS uma capacitação fundamental para o início da transferência de tecnologia que o SGDC poderá absorver. Na sala de aviônicos são simuladas as condições de funcionamento dos computadores, sensores e atuadores, entre outros, dos payloads designados para cada satélite. Os aviônicos são o cérebro do satélite, e dominar esta tecnologia é mandatário para a sequência do processo como um todo. Também foram demonstrados pelos engenheiros Massimo de Lazzaro (especialista em radares de alta resolução), Vittorio Pagni (gerente de programas de observação terrestre) e Michelangelo L´abbate (projetos avançados), os recursos necessários para uma correta interpretação e manipulação das imagens geradas com radares, e aplicações das mais variadas para este tipo de sistema dual (civil e militar), que pode atuar na vigilância terrestre e marítima, na prevenção e acompanhamento de fenômenos climáticos dos mais diversos, na medição e avaliação de ações do homem no solo e subsolo, exploração de recursos naturais, defesa ambiental, etc.

De Roma a reportagem de Infodefensa Brasil viajou por 130 km até ao Centro Espacial de Fucino, o maior da Europa e de uso “civil” no mundo, ode foi recebida por Lucio Magliozzi, oficial chefe de operações da Telespazio, e por Gianne Riccobono, responsável pelo Centro. Essa instalação estratégica da Telespazio é localizada em uma região cercado por um anel montanhoso, o que serve de escudo natural contra interferências nos sinais. Mais de 100 antenas servem para controlar as órbitas, e prover as telecomunicações, transmissões de televisão e outros serviços multimídia em escala global. Lá são controlados, por exemplo, a Constelação italiana de observação da terra COSMO-Skymed, ou os mais de 30 satélites e respectivas atividades operacionais do sistema GPS europeu Galileo. Existem 14 salas de controle nas edificações, e as antenas dispersas pelo centro impressionam pelo tamanho de algumas delas. Quase 300 pessoas trabalham ali, muitas em escala de 24 horas. O consumo de energia elétrica pode chegar a até 4,5 megawatts de potência para manter tudo funcionando, e a localidade inteira é protegida por tropas das Forças Armadas italianas localizadas próximas dali, câmeras, cercas especiais, vídeo-cameras e posto policial dedicado. Fucino recebe e controla sinais de redes como a INTELSAT, INMARSAT, EUTELSAT, fornece serviços de banda larga (back-bone nacional e internacional de rede), realiza a telemetria, traqueamento (acompanhamento) e comando de uma miríade de artefatos no espaço, e transmissão multicasting em terra e no mar.

A proposta de ToT da TAS

A Thales Alenia Space oferece um amplo plano de transferências de tecnologia para o Brasil, do qual o SGDC será o primeiro passo, já que os governos da França e da Itália apoiam irrestritamente tal operação com os brasileiros. Empresas de pequeno, médio e grande porte serão beneficiadas pelo apoio contínuo as atividades de desenvolvimento de tecnologias espacias por empresas locais. A TAS já dispõe de uma sólida rede de empresas no setor aeroespacial brasileiro com as quais pretende construir um entendimento comum sobre quais e como as tecnologias serão transferidas, e dispõe de cartas de intenções com várias destas: Orbisat, Atech, Orbital, Mectron, Fibraforte, Compsis, Omnisys, CENIC, etc, além da forte relação com a Embraer, da qual a Thales é a fornecedora do sistema de navegação inercial (INS) e de posicionamento global (GPS) do novo jato de transporte militar KC-390. A subsidiária brasileira da Thales, a Omnisys, já recebeu 120 milhões de euros (cerca de R$ 320 milhões) em transferência de tecnologia para o desenvolvimento e produção de radares de tráfego aéreo de banda L, criou um sistema que identifica emissão eletromagnética que poderia atrapalhar testes no centro de lançamento de Alcântara (Maranhão), integrou sistemas de guerra eletrônica para navios da Marinha do Brasil.



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