O Exército Brasileiro e os estudos de viabilidade militar do ADB-3-X01 2
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O Exército Brasileiro e os estudos de viabilidade militar do ADB-3-X01 2

El dirigible ADB-3-X01 de Air Ship de Brasil. Foto: Roberto Caiafa.
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Vem de 'ADB-3x01 de Airship do Brasil excede o seu primeiro voo (1)'

A logística militar empregando dirigíveis teve sua gênese no seio do Exército Brasileiro durante os anos de 1990. Em 2004, a força terrestre coordenou a criação de uma sociedade de propósito específico (SPE) para o desenvolvimento de dirigíveis, materializada na assinatura de um memorando de entendimento.

Diferentes empresas foram signatárias do documento, dentre elas a Transportes Bertolini Ltda (TBL). O projeto evoluiu e, em 1° de junho de 2005, formalizou-se a constituição da Airship do Brasil Indústria Aeronáutica Ltda. (ADB), uma sociedade que contava com a participação inicial de três outros sócios, além da própria TBL.

Instalada inicialmente no município paulista de Barueri, onde o Exército possui o Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP - grande organização militar de apoio logístico), a empresa foi transferida posteriormente para São Carlos, 240 km a nordeste da cidade de São Paulo, em 2010.

Atualmente existem diversos nichos de mercado que podem ser adequados aos dirigíveis, entre eles as cargas para locais inacessíveis por outros modais; cargas de grandes dimensões (indivisíveis) e alto valor agregado (pré-moldados pás de geradores eólicos, entre outros), que necessitam de carretas especiais, horários, trajetos e equipes especiais, o que eleva demasiadamente o custo com a utilização de modais tradicionais; cargas de elevado valor agregado, que ficam sujeitas a assaltos, exigindo elevados dispêndios com sistemas de segurança nos modais tradicionais; logística militar, especialmente para unidades de fronteira.

Os dirigíveis também podem ser empregados como plataformas para sensores e antenas integrantes de sistemas de vigilância e/ou monitoramento e/ou telecomunicações (leia-se SISFRON e SGDC) sendo possível que todas essas funções sejam atendidas simultaneamente em função dos equipamentos que estiverem instalados como carga paga (payload).

Segundo estudos feitos pelo Exército Brasileiro dentro do Projeto Dirigível, oficializado em 1997, dirigíveis construídos para atender requisitos militares poderiam facilmente ser utilizados em quase todo o território nacional, em distâncias de até 1.900 km, elevação do relevo de 1.000 m (embora o dirigível esteja sendo projetado para ter possibilidade de ascensão até 3.000 m de forma estática), espectro meteorológico bastante amplo, com grandes variações térmicas (com temperaturas de até 40°C), grande incidência de nuvens de chuva (Cumulus Nimbus –CB) e grande incidência de descargas elétricas (fazendo com que o dirigível seja projetado para suportar, sem riscos ou a necessidade de manutenção imediata, grande incidência de raios), infraestrutura mínima, pois todos os pontos onde ocorrerão as operações de carga e descarga estarão providos de condições mínimas para tal, sendo que, em vários pontos, essas operações serão feitas com o apoio de balsas.

Mais de 95% do território nacional está abaixo de 1.500 metros de altitude (dado um determinado volume fixado para o gás de flutuação do dirigível, sua capacidade de carga será maior quanto menos ele precisar ascender na atmosfera), as temperaturas variam entre 7°C e 38°C na média anual para as diversas regiões do país e os ventos atingem normalmente entre cinco e dez nós de velocidade.

Não há registros de ocorrência sistemática de nevascas, e as chuvas torrenciais da Região Amazônica são bem conhecidas em termos de duração, horários e locais afetados. Assim, o Brasil se configura território altamente compatível com a operação de aeronaves que utilizem a flutuação aerostática.

O uso militar de LTA, por exemplo, poderá ser feito em proveito da logística nas fronteiras e apoio médico nas áreas englobadas pelo Projeto Calha Norte, na região norte do país. A possibilidade de apoio logístico pesado, pelo meio aéreo, sem a necessidade de se contar com infraestrutura terrestre significativa, é por demais atrativa para ser ignorada ou incompreendida, algo que ainda acontece em pleno século XXI.

Os LTA também podem atuar em patrulha oceânica, função já desempenhada pelos dirigíveis blimps da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) nos 16 anos subsequentes ao final da Segunda Guerra Mundial (1945-1961), na costa leste desse país.

O custo de operar uma frota de dirigíveis é muito inferior quando comparado ao necessário para se manter diversos navios de patrulha, a velocidade superior dos LTA frente as embarcações é mais uma vantagem, além da autonomia de voo ser medida em dias ao invés de horas, isso quando comparado ao emprego de aeronaves convencionais de patrulha e esclarecimento marítimo, de asas fixas ou rotativas.

Tal capacidade seria especialmente relevante quando se consideram operações não só sobre o mar territorial brasileiro, mas se inclui também a chamada Zona de Exploração Econômica (ZEE) e suas valiosas plataformas de petróleo e gás natural.

Um LTA em patrulha, por exemplo, pode ser a base de lançamento e recolhimento de aeronaves remotamente pilotadas usadas para verificar contatos na superfície, evitando expor o dirigível a qualquer risco ou ameaça não identificada.

A concorrência norte-americana

Durante a 51ª edição do Salão de Aeronáutica e Espaço de Le Bourget, na França (2016), Orlando P. Carvalho (vice-presidente executivo da divisão de Aeronáutica da Lockheed Martin) anunciou a oferta ao mercado um novo dirigível (ou LTA), com capacidade de transportar até 20 toneladas.

O chamado veículo LMH-1 (Lockheed Martin Híbrido-1), baseado no protótipo Skunk Works P-791, que voou pela primeira vez em 2006, é o resultado de mais de 20 anos em pesquisas da Lockheed Martin no campo da tecnologia dos dirigíveis híbridos (flutuação + propulsão).

Trata-se de um veículo dotado de quatro motores diesel de 300 HP, com velocidade de cruzeiro em torno dos 60 nós e capacidade de voar por 1.400 milhas (o equivalente a 2.520 km) antes de precisar voltar ao chão.

Sua capacidade de carga é de 21 toneladas, ou até 19 passageiros. Cerca de 80% da sua capacidade de decolagem é determinada pela flutuabilidade do gás hélio encerrado dentro do envelope do dirigível.

O LMH-1 não requer postes de amarração ou o esquema de tie-down (pontos para fixá-lo no chão).

Em vez disso, ele usa um sistema de colchão de ar semelhante ao de um hovercraft, permitindo que o veículo manobre no terreno.

O modelo também produz um jato de sucção que o prende de maneira mais eficiente ao solo, mecanismo utilíssimo durante as fainas de carregar ou descarregar cargas.

Treinamento

Complementarmente a esses projetos, a ADB vem trabalhando na montagem e estruturação dos currículos e de cursos a serem ministrados para a formação de recursos humanos tanto para a operação como para a manutenção dos equipamentos por ela produzidos, estando prevista para funcionar em São Carlos, a primeira escola latino-americana formadora de pilotos, tripulações, mecânicos e gestores operacionais de dirigíveis.

A empresa também atua em paralelo com ANAC e o Departamento de Controle Espaço Aéreo (Decea) no sentido de organizar os regulamentos ainda inexistentes no Brasil para certificar a construção e a operação destas aeronaves.

O instrutor-chefe dessa escola, em fase de planejamento, é o comandante Charles Chueiri, atualmente piloto-chefe da ADB e responsável pelos controles do ADB-3-X01.

Piloto de origem militar, o Comandante Charles foi instrutor de voo na Academia da Força Aérea Brasileira, e sua experiência com pilotagem de LTA é bastante conhecida, pois comandou o dirigível "The Spirit of Goodyear", presença comum em grandes eventos na região sudeste do país, nos anos de 1990/2000.

O protótipo ADB-3-X01 inclusive é muito similar ao famoso dirigível da Goodyear , pois copia a maioria de suas características, incluindo peso e dimensões.

A Airship também conta com o auxílio de várias instituições de pesquisa para o desenvolvimento dos LTA.

A Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, a Universidade de Brasília e o Parque Tecnológico de Itaipú, além de vários fornecedores privados, atuam para viabilizar o estabelecimento de uma cadeia logística para a produção dos dirigíveis.

Entre as empresas do cluster aeroespacial do Estado de São Paulo parceiras da ADB, destacam-se a Proar, Avionics Services, AGS Aerohoses, Aerowood, APS, Plasmatec, RCA e TAM.

Imagens: Roberto Caiadfa/Air Ship do Brasil/Lockheed-Martin Company



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