As Forças Armadas do Brasil, mediante o grave quadro econômico e político existente no País, viram-se forçadas a adotar medidas restritivas, diminuindo o ritmo de alguns programas estratégicos, redirecionando outros ou simplesmente deixando alguns deles “morrerem” naturalmente.
Esse foi o caso do PROSUPER, definitivamente “enterrado” no seu formato original compreendendo cinco fragatas de seis mil toneladas, quatro navios-patrulha oceânicos, de 1,8 mil toneladas, e um navio de apoio, de 22 mil toneladas, com investimentos estimados em US$ 6 bilhões.
Em seu lugar, a Marinha do Brasil introduziu o mais realista Programa das Corvetas Classe Tamandaré (cujo RFP será anunciado no dia 19 de dezembro), prevendo a construção de quatro exemplares em associação com estaleiro estrangeiro que trabalhará em parceria com a Emgepron, responsável pelo gerenciamento industrial do programa.
O ano foi marcado por reuniões entre o almirantado e os diversos atores envolvidos, visitas de comitivas de países interessados em participar (caso dos Emirados Árabes Unidos, Ucrânia, Alemanha, Suécia, França e Itália) ao Brasil, etc.
Como complemento dessa diretriz, a Marinha também está preparando as bases de uma concorrência para a construção, seja no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro ou outro estaleiro contratado, do navio patrulha de 500 toneladas.
O PROSUB, prioridade máxima da Marinha, diminuiu o ritmo das obras em Itaguaí. As estruturas exclusivamente “nucleares” foram postergadas em favor da conclusão das instalações do shiplift (elevador de navios) e do estaleiro de construção e manutenção, necessários para manter o cronograma dos quatro submarinos convencionais S-BR dentro dos prazos reajustados anteriormente.
O “Riachuelo”, primeiro submarino que será entregue, encontra-se em avançado estágio de construção, tendo recebido recentemente o cradle de vante, onde ficam a sala de torpedos e seus tubos, o centro de operações de combate e a instalação do sonar de casco.
Quanto ao SN-BR de propulsão nuclear, o LABGENE (reator de testes em terra idêntico ao que será instalado a bordo) obteve grandes avanços em sua instalação. O massacrante corte de verbas nos programas que utilizam energia nuclear, e de resto, os cortes em toda a ciência de alta tecnologia brasileira contribuíram para a Marinha anunciar um novo delay (atraso) nas previsões de conclusão e lançamento do SN-BR.
No setor operativo, apesar das dificuldades, o ano foi bastante agitado. O NDM Bahia (G40) foi capacitado para lançar e receber helicópteros navais a noite em seus dois convoos, e participou de várias manobras e exercícios importantes.
Na UNIFIL (Líbano), prossegue o revezamento de fragatas ou corvetas brasileiras atuando no litoral daquela nação mediterrânea.
A modernização dos jatos A-4K Skyhawk (AF-1 Falcão) foi suspensa, e somente mais cinco serão entregues (dois já foram recebidos, um perdido em acidente que será reposto).
Até o fechamento desse artigo, não se conhecia o status dos programas COD/AEW embarcados, mas tudo indica que não terão continuidade.
A Marinha ainda precisa definir qual será seu futuro helicóptero de treinamento primário/intermediário/avançado, para substituir os poucos Bel Jet Ranger III que restaram, e garantir a continuidade de recursos para o programa UH-15B ASW/ASuW (armado com mísseis Exocet), realizado em parceria com a Helibras e a MBDA/Avibras Aeroespacial.
O Corpo de Fuzileiros Navais recebeu os Astros 2020 encomendados, constituído por Lançadores Múltiplos de Foguetes montados sobre viaturas, necessários para estender o alcance da Artilharia de Campanha em profundidade, e começou a receber os blindados anfíbios CLANF modernizados ao padrão Reliability, Availability, Maintainability/Rebuild to Standard (RAM/RS).
Por fim, a Marinha e o Ministério da Defesa continuam negociando a aquisição do navio britânico HMS Ocean.
Após tomar a decisão de desmobilizar e aposentar o NAe A-12 São Paulo, o Comando da Marinha decidiu adquirir um navio maior e mais capaz que o G-40 Bahia para fazer o papel de Nau-Capitânea da Esquadra.
O Ocean vai oferecer maior capacidade expedicionária e mais flexibilidade operacional para o Corpo de Fuzileiros Navais, e uma plataforma mais adequada para helicópteros navais de médio/grande porte, atuando em operações aéreas de apoio e suporte e/ou missões de assalto anfíbio.
No entanto, permanecem dúvidas sobre qual será o setup de equipamentos, implementos e veículos embarcados que serão entregues junto com o porta helicópteros/navio de assalto, e quais sistemas e armamentos defensivos não serão disponibilizados (negados) a Marinha do Brasil.
Imagens: Marinha do Brasil, Royal Navy, Roberto Caiafa