Super Tucano e os EUA: recessão, eleição e protecionismo
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Super Tucano e os EUA: recessão, eleição e protecionismo

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(Infodefensa.com) R. Caiafa, Sao Paulo - Do céu ao inferno. Assim pode ser definido o lapso de dois meses entre o anúncio da vitória do Super Tucano na concorrência LAS (31 de dezembro de 2011) e o surpreendente cancelamento deste contrato pela USAF (Força Aérea dos Estados Unidos). Envolvendo intricados interesses eleitorais, protecionismo industrial e batalhas diplomáticas, o fato é que pela terceira vez em sua história recente, a EMBRAER ganhou e não levou, em se tratando de Estados Unidos da América.

Antes do caso Super Tucano e o Programa LAS, a Embraer venceu a concorrência ACS (Aerial Common Sensor) com sua plataforma ERJ-145, depois cancelada, e há alguns anos, o mesmo Super Tucano, quando ainda um demonstrador de conceitos, venceu a concorrência JPATS (Joint Primary Aircraft Training System), que acabou sendo depois revertida em favor do... AT-6 Texan da Hawker Beechcraft.

Segundo nota oficial do Itamaraty, casa da diplomacia brasileira “O governo brasileiro recebeu com surpresa a notícia da suspensão do processo licitatório de compra de aviões A-29 Super Tucano pela Força Aérea dos Estados Unidos, em especial pela forma e pelo momento em que se deu. Considera que esse desdobramento não contribui para o aprofundamento das relações entre os dois países em matéria de defesa”. Nos dias seguintes a esta declaração, e após a passagem pelo Brasil de William Burns, que ocupa o segundo posto na hierarquia do Departamento de Estado americano, imediatamente abaixo da secretária Hillary Clinton, nas palavras do porta-voz do Itamaraty, Tovar Nunes, em declaração dada dias depois, "não existe desconforto, mas a surpresa", e essa surpresa "passou".

Como se deu esta mudança? Alguns indícios podem ser dados pela proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos. A Força Aérea dos EUA suspendeu a compra dos Super Tucanos alegando problemas na documentação da Embraer. Porém, a concorrente, Hawker Beechcraft, fez forte lobby para que o processo fosse suspenso, criticando eventual perda de empregos. O mercado de trabalho continua a ser o calcanhar de Aquiles da atual administração, que tenta a reeleição neste ano. No Brasil, a Embraer reagiu imediatamente, descartando ter havido falhas na documentação. A Força Aérea dos EUA prometeu lançar nova licitação para os aviões destinados ao Afeganistão, tudo para não perder os recursos já reservados no orçamento federal e que expiram no ano fiscal de 2013.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, Norton Schwartz, em declarações a imprensa norte-americana, considerou "vergonhosa" a suspeita de irregularidade na licitação vencida pela Embraer e que levou à suspensão definitiva do contrato. Ele afirmou que a Força Aérea norte-americana decidiu cancelar o negócio de US$ 355 milhões vencido pela fabricante brasileira após avaliar que a documentação estava "abaixo do padrão" para a escolha do vencedor, justamente no momento em que se preparava para enfrentar processo judicial movido pela concorrente Hawker Beechcraft, dos EUA.

Analistas acreditam, contudo, que a decisão foi motivada por razões eleitorais, considerando o lobby da indústria norte-americana e as críticas dos rivais do presidente Barack Obama. Schwartz afirmou que a investigação está progredindo e que "alguém terá que pagar pelo que ocorreu", caso seja provado que a questão envolve uma tentativa de direcionar o contrato para a Sierra Nevada Corp, parceira local da Embraer. Schwartz admitiu ainda que o assunto causou "embaraço" e "profunda decepção" entre os militares norte-americanos.

Do lado brasileiro, se aventou a possibilidade da decisão norte-americana encerrar as pretensões da Boeing quanto à venda do seu caça F-18 Super Hornet, um dos finalistas da concorrência FX-2 para um novo vetor de combate para a Força Aérea Brasileira. Ao mencionar que o cancelamento da licitação não contribuiria para o aprofundamento das relações "em matéria de defesa", o Itamaraty sugeriu que os EUA poderiam se complicar na licitação, leitura que a visita de William Burns ao Brasil mudou completamente, isso após longas conversas com o ministro das relações exteriores do País, Antônio Patriota.

A conferir os desdobramentos desta história no próximo mês, quando a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, vai visitar os Estados Unidos entre os dias 9 e 13 de abril. Na agenda dos dois chefes de estado, a questão da venda do F-18 Super Hornet ao Brasil e a resolução da novela do Programa LAS certamente darão a tônica da visita.



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