A alternativa improvável chinesa
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A alternativa improvável chinesa

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No dia 24 de abril, em nota oficial, The Boeing Company anunciava desistir da fusão com a Embraer, um negócio em discussão há quase três anos e avaliado em US$ 4,2 bilhões de dólares.

No mesmo dia, a Embraer respondeu com uma nota em termos duros, não só questionando a forma como a Boeing quebrou o chamado “MTA” mas também citando a crise causada pelo 737-Maxx e questões sobre reputação da empresa estadunidense.

Nas redes e mídias sociais, vídeo gravado e divulgado pelo presidente e CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto viraliza e nele estão as mesmas acusações em termos duros da nota oficial da empresa.

É pelo final da fala do CEO da Embraer que inicio minha análise.

Gomes Neto foi enfático ao declarar que a Embraer está capitalizada, tem acesso a crédito no mercado financeiro e existem opções para a empresa.

A esse vídeo, seguiu-se outro, gravado pelo icônico fundador da companhia, Ozires Silva, exaltando as qualidades das pessoas que lá trabalharam pelos últimos 50 anos de grandes feitos para a indústria aeroespacial brasileira.

No decorrer da semana, e quando perguntado sobre o assunto, o presidente Jair Bolsonaro disse “Se não há mais o negócio com a Boeing, a Embraer pode fazer outro acordo com outra empresa”. Isso não acrescentou muito, mas as declarações do vice-presidente Hamilton Mourão deram um colorido vermelho a situação.

Segundo Mourão, a China poderia ser uma ótima opção para a Embraer “"Há males que vêm para bem". O vice-presidente também afirmou que a Embraer continuará sob controle brasileiro e que a companhia poderá entregar um produto que a China precisa, conforme o país asiático amplia atuação na aviação doméstica. "Nós temos o produto e eles têm a necessidade. Nós temos a tecnologia...É um casamento inevitável", afirmou Mourão.

É nesse ponto que discordo diametralmente do vice-presidente.

Se pensarmos somente nos produtos militares carro-chefe da Embraer, o EMB-314 Super Tucano e o KC-390 Millennium, nenhum fornecedor de partes, peças e componentes desses dois projetos vai aceitar trabalhar com uma equação cujo final da conta é a China recebendo essas tecnologias via Embraer, portanto, podemos eliminar a parte militar de qualquer investimento chinês.

Na aviação comercial e executiva, parece que falta ao brasileiríssimo vice-presidente (descende de índios) conhecimento do passado recente da Embraer.

No início doas anos 2000, a empresa brasileira fez um acordo comercial industrial com os chineses, sendo criada a HEAI - Harbin Embraer Aircraft Industry Company Ltd.

Naquela fábrica seria produzida a versão chinesa do até então carro chefe da empresa brasileira, o ERJ-145, cujo primeiro exemplar voou em Harbin no ano de 2003.

Durante sete anos, a fábrica chinesa produziu essa aeronave enquanto a matriz brasileira passava a produzir os novos E-Jets, hoje na sua 2ª geração, conquistando o mercado norte-americano.

Quando a Embraer sinalizou a intenção de produzir os E-Jets na China, de olho no mercado local e sua zona de influência (um mercado com bilhões de potenciais passageiros), o Governo Chinês sequer respondeu as tratativas tentadas pela empresa brasileira.

No final de 2010, uma desenganada Embraer anunciava sua saída para logo depois assistir ao aparecimento da China Commercial Aircraft Co (COMAC), uma nova empresa de capital chinês que, curiosamente, produz um avião muito similar aos E-Jets, o Comac C919.

Portanto, não parece haver espaço para se fazer negócio com os chineses, especialmente quando o mundo, em plana Pandemia do Corona Vírus, questiona a dependência industrial criada em torno da... China.

Este autor não acredita que os chineses simplesmente colocariam encomendas dos aviões e os levariam para a China mantendo assim os empregos de brasileiros.

Ainda mais agora que existe a COMAC.

Durante a última semana de abril, as ações da empresa brasileira caíram 7% e, no acumulado de 2020, a empresa perdeu quase 60% do valor das ações.

No entanto, a Embraer dispõe de 3,3 bilhões de dólares em caixa, com uma dívida de curto prazo de apenas 215 milhões, o que mostra fôlego para resistir a crise da pandemia. Quanto tempo mais, não há como se prever....

Imagens: Embraer/Roberto Caiafa/COMAC



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