Desde o dia cinco de agosto do ano passado, o casco do ex-navio Aeródromo São Paulo encontra-se em movimento pelas águas do Atlântico, não como um orgulhoso nau-capitânea da Marinha do Brasil, mas como uma sucata flutuante que porto nenhum deseja receber em suas instalações. Já são cinco meses completos de mar, ou pouco mais de 150 dias.
Detalhe do convoo do NAe São Paulo, quando o navio já estava inativo no AMRJ. Foto: Roberto Caiafa
Por decisão cautelar do juiz federal Ubiratan de Couto Marinho, o casco do ex-Foch, nome de batismo na Marine Nationale, foi proibido de atracar no porto de Suape por oferecer riscos sanitários e ambientais, ou mesmo pelo perigo de abandono da embarcação ou probalidade de naufrágio na região portuária, com sérios prejuízos as operações de navegação marítima.
O casco permanece no oceano, a cerca de 20 quilômetros da costa do Estado de Pernambuco (11 a 13 milhas náuticas), rebocado pelo Alp Centre, de bandeira holandesa.
Já se passaram cinco meses entre a saída do Rio de Janeiro, a navegação até as imediações de Gibraltar, porta de entrada para o Mar Mediterrâneo, e retorno as águas brasileiras, onde a questão foi judicializada envolvendo a empresa turca que comprou o casco, a Sok Denizcilik Ve Ticarest Ltd Sti, a empresa operadora do rebocador, a MSK Maritime Services & Trading, o Governo Turco e organismos internacionais.
Quando em serviço na Marinha do Brasil, o navio anotou 210 dias de mar. Foto: Roberto Caiafa
Amianto, o Asbesto da Questão
Segundo declarações de especialistas navais, o casco do ex porta-aviões pode conter até 10 toneladas de asbesto, substãncia mais conhecida como amianto e altamente cancerígena, além de metais pesados que podem emitir algum tipo de radiação.
Esse cenário ficou ainda mais desfavorável quando a Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop) posicionou-se contra a atracação do ex-porta-aviões São Paulo no Porto de Suape, alegando ser inviável utilizar tantos berços de atracações operacionais para atracação de embarcações sem envolvimento operacional.
O Porto de Suape tem cinco berços de atração comerciais, sendo dois deles destinados exclusivamente a movimentação de contêineres. Na avaliação da entidade, o casco sucateado iria ocupar a área de quatro berços, restando apenas um para todas as demais operações do porto.
Isso poderia congestionar as operações portuárias durante o tempo necessário para manobrar, reparar o casco e retirar o mesmo de volta para alto-mar.
Para a Fenop, são inaceitáveis os possíveis reflexos negativos dessa operação para a economia da região.
O São Paulo chegou a operar com os AF-1 Falcão a bordo (A-4K/KU Skyhawk). Foto: Roberto Caiafa
A empresa MSK Maritime Services & Trading, responsável pelo transporte do ex-porta-aviões São Paulo, segue no aguardo da resolução das autoridades brasileiras para viabilizar uma solução definitiva para o transporte, até por que a tripulação do rebocador precisa ser trocada, dentre outras necessidades administrativas e operacionais.
O Centro de Comunicação Social da Marinha do Brasil informa que o casco encontra-se em uma área marítima no litoral do estado de Pernambuco, a fim de se verificar a integridade do casco e as condições de flutuabilidade e estabilidade por uma empresa de salvatagem (Salvage Master), a ser contratada pela Sok Denizcilik Ve Ticarest Ltd Sti.
Tal posição, em águas jurisdicionais brasileiras, é geoestrategicamente favorável para os trâmites relativos ao restabelecimento do processo de exportação, que é de responsabilidade e está sendo conduzido pela empresa vencedora do leilão, junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao órgão ambiental da Turquia, conforme prevê a Convenção de Basileia.
Dia 5 de agosto de 2022: o casco inicia sua inconclusiva última viagem. Foto: Arquivo Infodefensa