A Força Aérea Brasileira (FAB) assinou, na última sexta-feira (17/12), o contrato para aquisição de um novo lote de mísseis IRIS-T, do tipo ar-ar de curto alcance e de última geração.
Equipado com sensor infravermelho de matriz ativa e empuxo vetorado, o IRIS-T é um armamento essencial para ser utilizado em combate aéreo na aeronave F-39 Gripen.
Foto: Diehl BGT Defence
Míssil inteligente, com alta capacidade de manobra e resistente a contramedidas eletrônicas, um de seus diferenciais é a possibilidade de acompanhamento do alvo com integração na mira do capacete do piloto e outros sensores.
É, ainda, caracterizado por zonas de tiro significativamente aumentadas, alcance de aquisição aprimorado e maior precisão de acerto (PK aumentado).
Essas características proporcionam o engajamento com sucesso de alvos durante operações de combate em um ambiente com maciça interferência de contramedidas eletrônicas.
O míssil BVR MBDA Meteor - Imágenes: Roberto Caiafa
A nova ferramenta integrará o moderno sistema de armas da FAB, que também já dispõe do míssil BVR MBDA Meteor.
Enquanto o Meteor possui capacidade contra alvos a longa distância (mais de 100 km), o IRIS-T tem emprego de curta distância, até 30 quilômetros.
A junção dos dois armamentos, portanto, aumentará o poder de combate e as chances de sucesso contra os possíveis oponentes.
Com essa série de armamentos em ação, a Força Aérea Brasileira dá um enorme passo em direção ao estado-da-arte em sistemas missilísticos.
Python V, I-Derby e kit Spice, o set de armas atual da FAB deverá ceder espaço brevemente para os mais capazes MBDA Meteor, Diehl IRIS-T e Denel A-Darter (imágenes: Roberto Caiafa)
O IRIS-T é de concepção quase duas décadas mais recente que os Python IV e Python V, e possui performance superior a ambos em velocidade, alcance, manobrabilidade e resistência a contramedidas.
Já o MBDA Meteor sequer pode ser comparado ao atual BVR utilizado pela FAB, o rsraelense I-Derby, pois seu alcance é mais de três vezes o do míssil israelense, com velocidade superior e desempenho geral que supera com folga todos os outros mísseis do tipo BVR empregados na América do Sul.
Construído por um consórcio pan-europeu liderado pela alemã Diehl BGT Defence , o IRIS-T elenca entre suas principais características o emprego de um seeker (buscador) imageador infravermelho de matriz ativa de 5ª geração; acompanhamento do alvo com integração na mira do capacete do piloto e outros sensores; e alta capacidade de manobra, com emprego de empuxo vetorado que direciona os gases da queima do propelente do míssil.
Imágenes: Diehl BGT Defence
A-Darter
O outro míssil da mesma categoria selecionado para o F.39 Gripen brasileiro, o binacional A-Darter, pelo menos por enquanto, é uma incógnita.
Desenvolvido pelo Brasil e África do Sul, esse sistema de armas representou um investimento inicial de US$ 100 milhões através de um acordo assinado em 2006 entre o Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (Deped) da FAB e a Armaments Corporation of South Africa (Armscor), de Pretória.
Duas empresas foram envolvidas no programa, a brasileira Mectron (hoje SIATT) e a sul-africana Denel Aerospace.
Imágenes: Denel Aerospace.
Segundo declarou a época o então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luis Carlos Bueno, o empreendimento seria parte de um projeto destinado a obter para o Brasil a auto-suficiência na tecnologia de mísseis leves.
Ocorre que, 13 longos anos depois, em agosto de 2019, uma cerimônia simples marcou o fim da longeva fase de desenvolvimento desse armamento.
Em um evento binacional, ocorreu a entrega do Certificado de Tipo e Data Package do Projeto A-Darter, que teve por objetivo o desenvolvimento de um sistema de míssil de curto alcance ar-ar infravermelho de 5ª geração com transferência de tecnologia, certificação e industrialização no Brasil.
O Certificado entregue simbolizou o reconhecimento oficial por ambos os Países de que o sistema atende aos requisitos técnicos, operacionais, logísticos, industriais e de segurança emitidos tanto pela Força Aérea Brasileira quanto pela Força Aérea Sul-Africana, marcando assim o encerramento do ciclo de desenvolvimento do projeto.
Imágenes: Denel Aerospace.
O Data Package entregue naquela ocasião representava a materialização do conhecimento produzido ao longo do ciclo de desenvolvimento do projeto A-Darter (que durou 13 anos), sendo composto por todos os documentos técnicos e gerenciais elaborados ao longo do desenvolvimento, programas computacionais e dados de ensaios em laboratório e em voo.
Durante a emblemática cerimônia, o Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI), unidade da FAB subordinada ao DCTA, e o Directorate of System Integrity entregaram o Certificado de Tipo à empresa Denel Dynamics, demonstrando o êxito da cooperação tecnológica para o desenvolvimento do projeto.
De junho/agosto de 2019 até dezembro de 2021, não surgiu nenhum fato novo sobre o A-Darter, seja no Brasil ou na Àfrica do Sul. O País africano, inclusive, atravessa grave crise econômica que forçou, entre outras medidas, a estocagem em solo de muitas células de caças Gripen operados pela SAAF.
Seria a delicada situação financeira da Àfrica do Sul a maior causa desse atraso em dois anos entre o encerramento do desenvolvimento e o início da industrialização do A-Darter? Em junho de 2019, o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, foi à África do Sul para reforçar a relação com o grupo Denel Dynamics. Durante o encontro, o sul-africano Japie Mare, a época gerente do programa A-Darter, fez uma apresentação completa sobre o míssil, inclusive mostrando a futura divisão de trabalho entre a Denel e a indústria brasileira.
O então ministro da Defesa, Fernando Azevedo, vistando a Denel Dynamics em 2019. Imágenes: MD
Para um programa lançado em 1995 no seu formato original, cancelado posteriormente e retomado em 2006, mais os treze anos de desenvolvimento que se seguiram, mais os dois anos sem novidades na industrialização do míssil resultam na incrível marca de 26 anos (vinte e seis anos) despendidos na obtenção de um míssil de 5ª geração que ainda não foi entregue, seja no Brasil ou na Àfrica do Sul.
Enquanto isso, a FAB comemora a compra de mísseis europeus IRIS-T, absolutamente similares ao A-Darter.
A diferença é que o IRIS-T existe, é real e está sendo entregue, enquanto o A-Darter não passa de um Certificado de Tipo e Data Package, ambos trancados em algum cofre, provavelmente...
Imágenes: Denel Aerospace.