Um acordo bilateral de Defesa visando uma parceria tecnológica para reatores nucleares de propulsão embarcados entre Brasil e Rússia. Esse é um dos possíveis resultados diplomáticos da recente visita do presidente brasileiro Jair Bolsonaro a Rússia, onde encontrou-se com o presidente russo, Vladimir Putin, alguns dias antes do segundo ordenar a (re) invasão da Ucrânia.
Em uma guinada surpreendente, o Brasil não só admite a interferência norte-americana contrária ao Programa Nuclear da Marinha do Brasil, com seus inúmeros embargos a empresas americanas e de outros países fornecedoras de ligas metálicas especiais, dentre outras tecnologias, como também abre a sensível questão da certificação do combustível nuclear a ser usado no reator do submarino brasileiro, algo que o Brasil ainda não domina e os americanos protelam, impedem ou negam qualquer ajuda há décadas.
O fato é que o contrato com os franceses do Naval Group cobre somente o casco do submarino de propulsão nuclear brasileiro, toda a parte referente a propulsão nuclear, reatores, combustível, segurança nuclear, etc, é de responsabilidade da Marinha do Brasil.
Obstáculos dos EUA ao desenvolvimento do programa nuclear
O almirante-de-esquadra Marcos Sampaio Olsen, quando a frente da Diretoria-Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha (DGDNTM), em abril de 2021, falou sobre as dificuldades enfrentadas: "A minha maior preocupação diz respeito ao acesso a tecnologias sensíveis e os Estados Unidos interferem não só com relação àquelas encomendas a empresas americanas, mas a de outros países".
Na prática, isso significa que o Brasil (Marinha) não consegue comprar no mercado internacional de equipamentos nucleares diversos itens essenciais ao reator, e a indústria nacional não tem capacitação para suprir essas lacunas, criando um gargalo tecnológico que pode até, em última instância, inviabilizar o submarino brasileiro de propulsão nuclear.
A etapa de reprodução em terra das condições que serão encontradas no mar pelo reator atômico e por seus componentes está sendo preparada no Laboratório de Geração Nucleoelétrica (Labgene), em Iperó (SP). O cronograma de ações necessárias estaria sete anos atrasado devido as inúmeras interferências de agentes externos nos processos licitatórios de aquisições de material de emprego nuclear.
A prontificação do Labgene, de alta complexidade, permitirá que o mesmo funcione tal como um reator que opera dentro do submarino, marco previsto para ser alcançado, no cronograma revisto, ao final de 2024. Para cumprir esses planos, o Brasil terá de ir ao mercado, que já estava de portas fechadas antes e agora ficou ainda mais difícil o acesso com o advento da Invasão Russa na Ucrânia.