Gen. Paixão (Brasil): "Com o míssil AV-MTC 300, o Exército tem uma arma eficaz e a Avibras um excelente produto" (1)
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Gen. Paixão (Brasil): "Com o míssil AV-MTC 300, o Exército tem uma arma eficaz e a Avibras um excelente produto" (1)

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General de brigada Moisés da Paixão Júnior, Comandante da Artilharia do Exército Brasileiro. Foto: Roberto Caiafa
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Para conhecer um pouco mais sobre o Comando de Artilharia do Exército Brasileiro e suas novas instalações, inauguradas em 2020, e sobre o Astros, o mais moderno e capaz sistema de longo alcance da força terrestre, o Infodefensa.com viajou até o Forte Santa Bárbara, onde foi recebido pelo General de Brigada Moisés da Paixão Júnior, chefe da Artilharia do Exército Brasileiro.

Paixão, nascido em Recife, Pernambuco, há 52 anos, é o responsável pela mais poderosa arma terra-terra do continente sul-americano, o míssil de cruzeiro Avibras AV-MTC 300, que só pode ser lançado pelos Astros.

Nesta primeira parte da entrevista, Paixão destacou que o CEP (erro provável circular) do missil é de apenas nove metros e o desempenho do booster de aceleração/lançamento e da turbina de cruzeiro tem se destacado nos últimos testes. Além disso, já possui maior autonomia na versão aprimorada com menor consumo de combustível sem degradação do desempenho.

Da mesma forma, é garantida a industrialização da arma, por meio da Avibras, que mantém atualizados os conhecimentos adquiridos e a mão de obra necessária para o desenvolvimento do AV-MTC 300.

Por fim, o chefe da Artilharia Brasileira informou sobre a possibilidade de não investir-se mais no foguete guiado FG40, além da fase de pesquisa conceitual e do teste prático da tecnologia de guiamento do terminal, que foi obtida e dominada.

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O general-de-brigada Paixão durante entrevista concedida a Infodefensa. Foto: Roberto Caiafa

O míssil de cruzeiro AV-MTC 300 chega com a missão de renovar o apelo dissuasor do sistema astro e seu potencial de exportação. O que você pode esclarecer sobre o desempenho do AV-MTC 300?

O Programa Astros, gerenciado pelo Escritório de Projetos do Exército sob atenção direta do Estado Maior da Força, é gerenciado pelo general R1 Barreto, que já deu uma importante entrevista a Infodefensa em 2018, quando o Programa ainda se chamava Astros 2020.  Em março de 2022 tivemos uma capanha de lançamento que foi muito exitosa. O míssil atendeu todos os requisitos de performance na fase de lançamento, cumpriu todas as etapas de navegação em seu voo guiado por waypoints e realizou com sucesso o impacto na área alvo estabelecida na Barreira do Inferno em Natal, no Rio Grande do Norte. Tudo dentro do previsto nos requerimentos. Remarcamos para o ano de 2023 os disparos previstos para acontecer no 2º semestre de 2022, mas essa campanha singular em março foi um êxito completo, comprovando que o Exército Brasileiro tem uma arma eficaz em mãos e a Avibras um excelente produto, com um ciclo de desenvolvimento bem avançado. 

AV-MTC-FIrmar a Gabriel Macfo


Qual foi a performance CEP obtida pelo AV-MTC 300 nesse disparo? E quantos quilometros de distância o míssil voou?

A previsão do míssil especificada nos requerimentos é de 300 km. O que podemos acrescentar de informação nova é: a medida que a turbina do míssil vai sendo aprimorada, conseguimos obter, com a mesma quantidade de combustível, um alcance maior que o anteriormente registrado. O míssil cumpriu os 300 km efetuando uma navegação por waypoints, e depois disso se dirigiu para a zona de impacto/alvo. Lembrando que a performance de um lançamento somente não pode determinar que esse número é definitivo, ele pode melhorar com mais lançamentos, mas o disparo de março impactou o alvo com um CEP de nove metros, comprovando a capacidade de navegação do sistema e a precisão do ataque final contra o alvo especificado. Em caso de um conflito, esse alvo teria sido completamente destruído.

A Avibras Aeroespacial e Defesa entrou em um processo de recuperação judicial deflagrado em plena pandemia de Covid-19. Qual o impacto que isso teve ou pode ter sobre o Programa Astros?

Estivemos recentemente na sede da Avibras, onde assistimos uma palestra proferida pela direção da empresa sobre essas questões financeiras, que tem seus impactos. Da Avibras recebemos duas sinalizações claríssimas, primeiro o compromisso deles em resolver essa questão da recuperação judicial o mais brevemente possível, e segundo, a preservação da mão de obra, dos empregos, do conhecimento técnico necessário ao Programa Astros, mesmo que com readequações e mudanças de cronogramas. De fato, isso explica por que foi necessário remarcar os disparos do 2º semestre deste ano para o ano de 2023. 

Então já existe um detalhamento dessas atividades?

Com a retomada dos testes, deveremos efetuar seis lançamentos, sendo quatro instrumentados para gerar dados de telemetria da missão, e pelo menos os dois últimos com cabeça de guerra, para verificar e qualificar o sistema por completo. Assim vamos entrar na fase final de certificação e concluir o desenvolvimento do míssil de cruzeiro do Exército Brasileiro, em sua primeira versão. Pela dimensão desses testes, eles deverão acontecer no Campo de Provas Brigadeiro Velloso (Cachimbo), e agora é questão de verificar a disponibilidade da Força Aérea Brasileira com relação aos meios necessários para o transporte do material e equipagens, a disponibilidade de pessoal técnico da Avibras e do nosso pessoal para somar forças nessa reta final.

E a questão da industrialização do míssil, já se sabe quantos mísseis o Exército preetende adquirir?

A questão de quantidade agora não é fundametal, mas sim o domínio da tecnologia necessária para fazê-lo, e o mantenimento dessa capacidade industrial através da Avibras. A quantidade de mísseis depende de uma série de fatores. O Estado Maior do Exército tem suas diretrizes e planos de dotação anuais de material, que dependem de fatores orçamentários e tantos outros, trabalhados  em conjunto com o Comando de Operações Terrestres nas questões relativas ao adestramento da tropa. Precisamos que o produto esteja pronto, certificado e disponível, e somente aí, o Comando Logístico, por meio da Diretoria de Abastecimento, vai estabelecer os recursos orçamentários  e demais questões necessárias para aquisição desse material. O fator dissuassório aqui, deixar isso bem claro, não é a questão quantidade, mas todos os interessados saberem que podemos efetivamente produzir um missil de cruzeiro com mais de 300 km de alcance.

Capa entrega strev

A Omnisys, fornecedora do Strev, é a subsidiária do Thales Group no Brasil. Imagem: EB

Omnisys forneceu o Sistema Transportável de Rastreio de Engenhos em Voo (Strev). O que o senhor pode acrescentar sobre o desempenho desse equipamento durante a campanha de tiro do AV-MTC 300?

Uma das grandes iniciativas do Programa Astros foi o estabelecimento de caixas componentes importantes, como o Avibras MTC, O Foguete Guiado, o Forte Santa Bárbara, O Sis-Astros que é o Sistema Integrado de Simulação Astros, a aquisição de viaturas novas e a modernização de outras, e o emprego de um novo sistema de acompanhamento, uma necessidade que surgiu ao longo dos testes, seja como redundância das instalações de Natal ou Alcântara, seja como um novo aperfeiçoamento de capacidades em telemetria, gerenciamento de dados e acompanhamento dos voos. Os ópticos de rastreamento também contribuíram decisivamente para o acompanhamento visual de voos complexos a longas distâncias. O STREV foi uma importante iniciativa e seguramente é um dos grandes legados do Programa Astros para a Indústria Nacional de Defesa, pois ele fica baseado no Centro de Avaliações do Exército (CAEx) e inclusive já está cotado para atender as outras forças em seus programas. O STREV é uma poderosa ferramenta de trajetografia e outras tecnologias focadas em telemetria, e a sua presença nos ensaios e testes deu mais segurança, disponibilidade de capacidades a 100% em todas as etapas e agilidade no processamento dos dados gravados.

FG 40 Avibras

Corte Esquemático do Foguete Guiado 40. Imagem: Avibras

E como está o desenvolvimento do Foguete Guiado 40?

Vamos começar a resposta esclarecendo a diferença entre foguete e míssil, por que são diferenças importantes. O foguete não é controlado durante a sua trajetória, ele é balístico e segue numa trajetória predeterminada no disparo. O míssil é controlado, ele segue uma navegação por waypoints programados, ele muda de direção em voo. No caso do foguete guiado, você pode interferir na fase terminal de voo, isso dentro do conceito de saturação de área. O desenvolvimenbto dessa capacidade foi alcançada e conseguiu-se efetivamente melhorar a precisão da fase terminal, inclusive abrindo possibilidade disso ser extendido aos outros foguetes da família Astros, que são maiores. Mas também detectamos que essa capacidade não é interessante no momento como produto a ser industrializado pois envolve acréscimos na eletrônica embarcada x quantidade de submunições/ogiva. Alcançamos o requerimento, desenvolvemos o guiamento terminal, e instâncias superiores ao meu comando determinaram que nesse momento, o Foguete Guiado 40 não terá prioridade na sua industrialização, ao contrário do AV-MTC 300, que tem prioridade máxima na sua aquisição.

Avibras apuesta por su misil AV-MTC ante el ocaso comercial del sistema Astros

Pessoal do Exército, Avibras Aeroespacial e Defesa e Base Industrial de Defesa posam com o mock-up do AV-MTC 300 durante a LAAD 2019. Foto: Roberto Caiafa




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