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Crise entre Brasil e Israel: as declarações de Inácio da Silva podem ter repercussões no setor de defesa
A meteórica crise diplomática entre Brasil e Israel causada por uma fala do presidente brasileiro Luis Inácio da Silva, que comparou a ação israelense em Gaza à dos nazistas no Holocausto, pode afetar diversos grandes projetos estratégicos das Forças Armadas brasileiras.
Embora a crise seja de caráter essencialmente político/ideológico, ela pode ter impactos diretos no setor de defesa: os dois maiores projetos da Força Aérea Brasileira, para citar apenas uma força, são dependentes de tecnologia israelense, no caso o caça SAAB Gripen e o jato de transporte Embraer KC-390 Millennium.
A fala repercutiu de maneira bastante negativa em Israel e no mundo ocidental, com duras críticas vindas do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, seguidas de uma reunião com o embaixador brasileiro em Tel Aviv e por fim, o dirigente brasileiro foi declarado Persona Non Grata pelos israelenses e o embaixador brasileiro em Israel foi chamado de volta ao Brasil.
Relação Estratégica
A Base Industrial de Defesa e Segurança do Brasil está formada por um retalho de companhias, tecnologias e capacidades construídas ao longo de décadas, tanto aquelas 100% nacionais, exemplo de sucesso, a Embraer, quanto aquelas originadas de parcerias com empresas de outros países, seja por investimento próprio ou por aquisição de empresa nacional, dentro das regras da legislação brasileira.
Israel possui uma sólida posição no Brasil, há décadas, e suas empresas de defesa participam de Programas Estratégicos das Forças Armadas que em maior ou menor grau, simplesmente garantem a defesa do espaço aéreo brasileiro pela Força Aérea Brasileira, as comunicações, comando e controle do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, e o desenvolvimento de sistemas de armamentos que equipam veículos blindados do Exército Brasileiro, para citar um exemplo de terra, mar e ar.
Na Força Aérea Brasileira, toda a aviônica digital utilizada pelos aviões de transporte Embraer Bandeirantes modernizados, e suas variantes de Patrulha Naval, pelos caças Northrop F-5EM/FM e Embraer A-1 AMX, e agora, pelo novo SAAB F.39E Gripen, são fruto do desenvolvimento, no todo ou em partes, de tecnologias criadas no Brasil por brasileiros, trabalhando em parceria com a engenharia aeroespacial israelense e utilizando como base tecnologia judaica.
O Wide Area Display do Gripen E, tela que mostra todos os dados de voo e missão ao piloto, é um exemplo de produto desenvolvido dentro desse esquema e que já foi adquirido inclusive pala Suécia para equipar os 60 Gripen E previstos para a Flygvapnet.
Adicione a essa conta que todos os mísseis ar-ar atualmente em uso na FAB (Python IV, Derby, I-Derby) são fabricados em Israel, e os drones estratégicos que o Brasil opera, do tipo Hermes 450 e Hermes 900, também são israelenses, e verifica-se como a fala irresponsável de um político agradando a sua "bolha" pode trazer sérias consequências no mundo real.
De fato, a Força Aérea, em 2021, anunciou planos de adquirir mais dois exemplares do Hermes 900, modelo que se mostrou fundamental na vigilância ambiental da Amazônia Brasileira (Operação Samaúma) e no combate aos garimpos ilegais que infestam determinadas regiões de selva.
Esses dois novos drones estratégicos estão previstos para serem entregues entre 2025 e 2026, mas agora é incerto o status dessa compra.
Outras aeronaves como o KC-390 Millennium também recebem componentes de origem israelense, cruciais para o desempenho do avião em diversas situações, especialmente com relação as autodefesas ativas e passivas, sistemas da aviônica embarcada, sistema de visão aumentada e link digital de comunicações, o mesmo compartilhado com o F.39E Gripen e que vem sendo desenvolvido ao longo de quase vinte anos de intenso trabalho em Porto Alegre, São José dos Campos e Gavião Peixoto.
No Exército Brasileiro, são empregados diversos produtos de Defesa israelenses como munições, comunicações, cyber systems, etc, e na atualidade, está em curso uma licitação para obtenção de uma viatura blindada de combate obuseiro auto propulsado, sobre rodas, de 155mm (VBCOAP SR 155).
O produto de artilharia israelense, denominado ATMOS, considerado um dos favoritos para vencer o certame, pode ter a sua oferta retirada por determinação do Governo de Israel. As negociações em curso para a possível aquisição de Loitering Munnitions fabricados em Israel também podem seguir pelo mesmo caminho.
No setor naval, a aviação de asas fixas da Marinha emprega vetustos caças AF-1 Falcão (A-4K/KU Skyhawk) modernizados pela Embraer no Brasil utilizando tecnologia israelense em radares, sensores e comunicações, o que manteve essas aeronaves com alguma capacidade militar válida.
Em caso de uma ruptura, toda a vantagem advinda da modernização poderia ficar comprometida, e o avião, inviabilizado como vetor aéreo militar de combate, tornando a força de jatos de combate da Marinha inútil.
Nota do Autor: Apenas em 2023 foram exportados US$ 662 milhões para Israel, com destaque para petróleo, soja e carne bovina. Já os israelenses vendem ao mercado brasileiro equipamentos militares e de alta tecnologia, e exportam itens como adubos e fertilizantes, aeronaves e produtos químicos. Em 2023, as empresas brasileiras compraram US$ 1,352 bilhão de Israel. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que, nesse período, o Brasil teve um déficit comercial de US$ 690 milhões com Israel.
