Assim nasceu o 6x6 Guaraní, o futuro blindado do Exército Argentino
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Assim nasceu o 6x6 Guaraní, o futuro blindado do Exército Argentino

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Em 1999, o Comando do Exército Brasileiro iniciou um estudo para substituir os blindados sobre rodas Engesa EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, projetos de sucesso militar e comercial durante as décadas de 1970 e 1980, mas completamente obsoletos no início dos anos 2000. 

A partir das diretrizes da Política Nacional de Defesa (PND) e da Estratégia Nacional de Defesa (END), introduzidas em 2008, o Exército Brasileiro implementou projetos de modernização e transformação envolvendo diversos aspectos da Defesa, tanto em material, quanto em pessoal e mentalidade. 

O Escritório de Projetos do Exército (EPEx) introduziu a metodologia dos Programas Estratégicos (Prog EE) através de um Portfólio Estratégico do Exército (Port EE) com projetos de execução de médio e longo prazo, destinados a modernização da Força Terrestre.

Assim surgiu o Programa Estratégico do Exército Guarani (PEE Guarani)

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Blindado Guarani 6x6 do Exército Brasileiro durante operação no sul do País. Foto: Roberto Caiafa

O programa estabeleceu como objetivo o desenvolvimento de uma nova família de veículos blindados sobre rodas. 

No final do mesmo ano de 1999 o Exército Brasileiro emitiu um pedido conhecido como Requisito Operacional Básico ou ROB # 09/99, para uma nova família de veículos blindados de combate com capacidade anfíbia, capaz de substituir os antigos blindados da extinta Engesa.

Em março de 2006, ou seja, sete anos depois, conclui-se que os novos blindados seriam produzidos por meio da criação de uma Nova Família de Blindados de Rodas (NFBR), composta por duas subfamílias: a Viatura Blindada Multitarefa Leve de Rodas (VBMT-LR) e a Viatura Blindada de Transporte de Pessoal Média de Rodas (VBTP-MR). A primeira deu origem ao IDV LMV 4x4, e a segunda deu origem ao IDV Guarani 6x6.

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Estrutura da NFBR e seus sistemas. Imagem: IDV

O Programa Estratégico do Exército Guarani foi idealizado para modernizar as Organizações Militares de Cavalaria e transformar as unidades de Infantaria Motorizada em Mecanizada, de acordo com as mais recentes tendências e avanços tecnológicos da atualidade no cenário internacional. 

O PEE Guarani também contribui para o desenvolvimento de novas capacidades, tendo em vista que fortalece a indústria brasileira por meio da obtenção de tecnologia de emprego dual.

Em meados do ano 2007 foi lançada uma licitação para o atendimento desta demanda, e ao final daquele ano, em 21 de dezembro, foi assinado em Brasília um acordo entre o Exército Brasileiro e a divisão da Fiat - Iveco no Brasil, para o início da construção de um protótipo, tendo em vista que a proposta apresentada por esta multinacional representava a melhor solução do ponto vista técnico e econômico, pesando também a experiencia da empresa na produção em série do blindado sobre rodas italiano Iveco SuperAV 8x8

No dia 18 de dezembro de 2009, no Quartel-General do Exército, o General de Exército Fernando Sérgio Galvão, Chefe do Estado-Maior do Exército, e o Presidente da Iveco do Brasil S/A , Marco Mazzu, assinaram o contrato de produção do Projeto Viatura Blindada de Transporte de Pessoal - Médio sobre Rodas (VBTP-MSR), que previa inicialmente a fabricação, no Brasil, de 2.044 unidades em um período de 20 anos.

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Estrutura Analítica resumida do Programa Estratégico do Exército Guarani. Imagem: EPEx

Com a parceria estabelecida entre o EB e a empresa italiana, iniciou-se a produção de um protótipo e um lote-piloto com 16 unidades, onde a fabricação foi iniciada na Itália e o processo de montagem foi realizado no Brasil.

Como consequência da exigência do Brasil com relação aos 60% do índice de nacionalização, foi construído um complexo industrial na região de Sete Lagoas, no estado de Minas Gerais. 

O complexo pertence a integradora Iveco Latin America, que emprega a expertise da empresa localizada na Itália, Iveco Defense Vehicles

A unidade fabril  foi construída com o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). 

A fábrica da Iveco Veículos de Defesa fabrica o Guarani 6x6. Imagem: Roberto Caiafa  Infodefensa.com

A FAL do Guarani 6x6 na fábrica de Sete Lagoas (MG). Foto: Roberto Caiafa

Atualmente, a fábrica tem capacidade de produzir até 120 unidades/ano, gerando empregos e renda na região, incluindo mão de obra especializada. 

Originalmente, o programa previa a aquisição de 2.044 VBTP-MSR, porém com a redução orçamentária verificada entre os anos de 2015 a 2022, houve uma reavaliação do planejamento, estimando-se a aquisição de 1.260 viaturas blindadas até o ano de 2038. 


A fabricação do protótipo e do lote-piloto, composto por 16 viaturas, obteve sua viabilidade orçamentária por meio da atuação de órgãos como a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTIC). 

O desenvolvimento foi concluído em 2011. 

Em 2012, o Brasil encomendou um primeiro lote de 86 veículos blindados Guarani, entregues entre 2013 e 2014.

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A fábrica da IDV em Sete Lagoas é a única fora da Europa produzndo blindados. Foto: Roberto Caiafa

A produção em larga escala do Guarani começou em 2013, e até meados de 2022, mais de 500 veículos já haviam sido entregues. 

Atualmente o blindado fabricado em Sete Lagoas é o mais avançado em produção na América do Sul.

A blindagem standard com a qual o veículo é entregue oferece proteção contra fogo de armas de infantaria e estilhaços de projéteis de artilharia (Stanag 1), e blindagem composta adicional para proteção aprimorada pode ser adicinada usando os pontos de fixação espalhados pelas laterais do casco. 

A parte inferior do casco tem um design em forma de V, fornecendo proteção contra minas terrestres, e o interior está equipado com um forro spall-linner protegendo tripulação e tropa embarcada.

O Guarani 6x6 pode ser equipado com metralhadoras de 7,62 mm ou 12,7 mm, controladas remotamente em estações de armamento REMAX fabricadas no Brasil pela Ares Aeroespacial e Defesa, ou lançador de granadas automático de 40 mm.

O pátio cheio de Guaranis na IVECO em Sete Lagoas. Fotos: Roberto Caiafa

Unidades do Guarani 6x6 prontas no pátio da IDV aguardando destinação. Foto: Roberto Caiafa

O veículo tem uma tripulação de dois militares e transporta em assentos anti-crash até nove soldados, um total de 11 a bordo. As tropas entram e saem pela porta traseira ou escotilhas do teto. 

O Guarani está equipado com modernos sistemas de gerenciamento de campo de batalha usados para navegação, posicionamento e planejamento de missão.

Esse sistema oferece consciência situacional melhorada, pois exibe unidades amigas próximas nas telas do comandante e motorista.

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Uma variante com canhão de 30 mm do tipo UT30BR foi encomendada pelo Exército, mas em pequenas quantidades, inicialmente. Foto: Ares Aeroespacial e Defesa 

O Guarani é movido pelo motor diesel turboalimentado IVECO Cursor 9, desenvolvendo 383 cv e localizado na frente do casco. O Cursor 9 está acoplado a uma transmissão automática e o veículo emprega suspensão hidropneumática. 

Seu casco é totalmente anfíbio, e flutuadores laterais modulares (kit de flutuação) podem ser adicionados. 

O veículo pode ser transportado pelo Lockheed C-130 Hercules ou Embraer KC-390 Millenium em sua versão standard sem qualquer modificação, e os pneus podem ser esvaziados para aumentar o espaço a bordo.

O conceito de "Família de Blindados" envolve a fabricação de novas versões do Guarani como um veículo de comando, um veículo de assistência técnica (resgate/oficina), uma ambulância blindada, um porta-morteiro de 120 mm semi-automático, um veículo de direção de tiro e um veículo de combate de infantaria, já existente se for considerada a versão armada com a torre UT30BR (canhão de 30mm Bushmaster).

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Teste de compatibilidade do Guarani UT30 BR no compartimento de carga do KC-390. Foto: EDS

Em sua versão standard 6x6, o Guarani possui um motor FPT Industrial Cursor 9F2C de 383 cv, transmissão automática ZF Friedrichshafen 6HP602S, propulsão aquática Bosch Rexroth A2FM80, sistemas pneumáticos centrais Téléflow, sistema de proteção QBN (química, biológica e nuclear) Aero Sekur, sensor de detecção de incêndio e combate ao fogo automático da Martec, painel digital do motorista, sistema elétrico CANBUS tipo 24V, assentos com absorção de choque, câmeras de motorista da Orlaco Products, sistema de ar condicionado da Euroar, sistema de pneus runflat Hutchinson, eixos motrizes Dana, e caixa de transferência e suspensão da Iveco. 

O sistema de comando e controle é composto por dois rádios Harris Falcon III com GPS integrado, um intercomunicador Thales SOTAS, um computador Geocontrol CTM1-EB e software GCB (Gerenciador do Campo de Batalha), desenvolvido pelo Centro de Desenvolvimento de Sistemas do Exército Brasileiro.

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Vistas do sistema de comando e controle C2 de Combate do 6x6 Guarani. Fotos: Exército Brasileiro

A partir de 2016 os blindados Guarani passaram a ser equipados com o Sistema de Armas Reparo de Metralhadora Automatizado X (REMAX), desenvolvido pelo Centro de Tecnologia do Exército e a empresa ARES Aeroespacial e Defesa S.A. 

O REMAX é uma estação de armas remotamente controlada giro-estabilizada controlada remotamente para metralhadoras M2A1, calibre .50 BMG 12,7 mm e 7,62 mm que foi desenvolvida a partir dos requisitos do Exército Brasileiro. 

Iniciado em 2006, esse programa resultou no desenvolvimento da primeira estação de armas 100% nacional. 

Um contrato inicial foi celebrado em 8 de março 2016 para a produção do lote primeiro lote de produção, de 215 unidades do modelo REMAX 3.

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Blindado 6x6 Guarani armado com Remax 4. Os veículos da Argentina deverão receber essa Remax. Foto: Ares Aeroespacial e Defesa

Até fins de 2021 mais de 280 unidades Remax já haviam sido entregues e integradas aos VBTP-MSR Guarani do Exército Brasileiro, incluindo aí unidades da nova Remax 4

Além deste sistema, também estão homologados para o emprego de torres manuais tripuladas como a australiana Platt MR 550 e a israelense Plasan GPK. 

No ano de 2021 começou a ser ensaiado também uma torre de fabricação nacional produzida pela ARES denominada REMAN.

O Guarani também pode ser equipado com um conjunto blindagem adicional externa UFF (Ultra Flex Fence), especialmente projetada para oferecer proteção passiva otimizada contra lança-granadas propelidas por foguete do tipo RPG-7 e SPG-9 (ou similares). 

Esse add-on veicular é fabricado pela ALLTEC Materiais Compostos, com tecnologia desenvolvida pela israelense Plasan

Flexível, pode ser instalada em várias áreas específicas do blindado, como portas, torre, nas laterais, etc.

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Em 2015, o Guarani 6x6 foi exibido na LAAD com um conjunto de blindagem adicional externa UFF ( Ultra Flex Fence). Foto: Roberto Caiafa




Mais recentemente, em setembro de 2021, foram iniciados testes de campo com os dois protótipos conceito da viatura blindada especial de engenharia (VBE Eng) 6X6 Guarani, nas instalações do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP). 

O projeto do Departamento de Engenharia e Construção (DEC), coordenado pela Diretoria de Material de Engenharia (DME), firmou parceria com a empresa britânica Pearson Engineering Ltd, que forneceu os implementos braço de escavadeira (“excavator manipulator arm” – EMA); concha carregadeira (“earth anchor blade” – EAB) e lâmina para remoção obstáculo (“straight obstacle blade” – SOB), tornando possível disponibilizar dois protótipos funcionais da Viatura Blindada de Combate Engenharia (VBC Eng) Guarani.

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Os dois protótipos funcionais da Viatura Blindada de Combate Engenharia (VBC Eng) Guarani. Foto: EB

Outro desenvolvimento do VBTP-MR 6×6 Guarani que está ocorrendo em paralelo, mais ainda não avançou a fase de aquisições, é o Guarani 6x6 na versão porta-morteiros equipado com o morteiro  de 120 mm semi-automático. 

As empresas Thales (2R2M), RUAG (Cobra), Elbit Systems (Cardom), Aselsan (Alkar), Patria (Nemo) e Singapure Technologies Engineering (Super Rapid Advanced Mortar System - SRAMS)  já apresentaram propostas para atender a integração desse tipo de armamento no 6x6 Guarani.

Ao ser integrado ao  Guarani (previsto quatro carros porta-morteiros por batalhão), o morteiro de 120 mm representará uma arma extremamente letal devido a sua alta mobilidade, profundidade e densidade de tiro (múltiplos impactos de direções diferentes), mais a capacidade de apoiar por fogos tropas blindadas e mecanizadas durante seu deslocamento, cobrindo os flancos e a linha de frente.

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As empresas Thales (2R2M), RUAG (Cobra), Elbit Systems (Cardom), Aselsan (Alkar), Patria (Nemo) e Singapure Technologies Engineering (Super Rapid Advanced Mortar System - SRAMS)  já apresentaram propostas para atender a integração desse tipo de armamento no 6x6 Guarani. imagem: Roberto Caiafa

Após mais de 500 veículos desta família entregues, fica evidente ao final desta leitura a revolução tecnológica e operacional obtida pelo Exército Brasileiro com o blindado sobre rodas 6x6 Guarani, melhorando em muito a capacidade operacional da Força Terrestre.

São estes os mesmos benefícios que o Exército Argentino passará a ter acesso quando receber e começar a operar os seus 6x6 Guarani.

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Representação artística do Guarani 6x6 UT30BR nas cores do EA. Arte via Paulo Bastos



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