R. Torres e M. Degaut: “Edge pode intervir e quebrar a visão de curto prazo da indústria no Brasil”
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R. Torres e M. Degaut: “Edge pode intervir e quebrar a visão de curto prazo da indústria no Brasil”

Empresa estatal de defesa dos Emirados Árabes Unidos abre frentes de negócios e busca alianças no Brasil
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O Grupo Edge é um conglomerado de 25 empresas que tem como proprietário o governo dos Emirados Árabes Unidos, portanto, é uma estatal de defesa que está realizando importantes ações, abrindo frentes de negócios e criando parcerias importantíssimas no Brasil.

Para falarmos sobre a Base Industrial de Defesa (BIDS) brasileira e sobre os desafios para o estabelecimento de um Brasil exportador, inserido no mercado internacional, Infodefensa entrevistou, direto de Abu Dhabi, dois executivos do EDGE Group, Rodrigo Torres e Marcos Degaut.

No ano de 2023 esses dois executivos protagonizaram uma série de ações tanto nos Emirados Árabes Unidos quanto no Brasil, estabelecendo uma série de parcerias, memorandos de entendimento e acordos comerciais que estão elevando o patamar da base industrial de defesa brasileira a um novo nível.

617726Edge Group firma un acuerdo con el Departamento de Ciencia y Tecnología Aeroespacial de la Fuerza Aérea Brasileña. Firma: EDGE Group

Como o senhor analisa a falta de previsibilidade orçamentária e a falta de comprometimento qualitativo da sociedade brasileira em relação às questões relacionadas à Defesa?

R. Torres: Esse é um ponto estressante para as empresas brasileiras, pois, por um lado, significa menos desenvolvimento e menos investimento, as empresas se tornam fragmentadas, falta escala de produção para as empresas de defesa brasileiras. O lado bom disso, as empresas sobreviventes nesse cenário se tornam muito ágeis e conseguem superar desafios tecnológicos difíceis de uma maneira inteligente, de forma super-rápida e com orçamento super curto. Empresas grandes como a Embraer e outras menores conseguiram desenvolver tecnologia superinteressante e com orçamento pequeno tentando ser criativo o máximo possível, mas esse framework tem que mudar porque senão vai haver uma fragmentação generalizada nas Forças Armadas.

E como o Grupo Edge pode ajudar?

Torres: Suponhamos que talvez amanhã, por exemplo, a Marinha do Brasil não tenha os recursos totais para fazer um investimento em determinadas capacidades. O Edge Group pode entrar com esse investimento e quebrar esse paradigma da visão de curto prazo dos concorrentes. O Edge Group pensa e age no longo prazo tentando capitalizar todo o processo industrial e de tecnologia que o parceiro Brasil desenvolveu, nos permitindo assim recriar a mesmas capacidades de forma soberana para os EAU. O Edge é uma empresa estatal, portanto não estamos tentando investir só a nível comercial, que seria a dinâmica normal de outras empresas. Estamos investindo e nos comprometendo a nível de parceria de longo prazo, então tome parceria com a Marinha, parceria com o Exército, parceria com a Aeronáutica, para juntos desenvolvermos produtos e capacidades.

617726Edge Group assina parceria com a empresa de propulsores Turbomachine. Foto: EDGE Group


Quais são as principais dificuldades?

M. Degaut: O Parlamento Brasileiro é uma caixa de ressonância, temos ali reunidos diversos grupos com diferentes perspectivas, espectros políticos divergentes, e a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional segue esse mesmo padrão, perspectivas distintas, ideias distintas. Talvez o nosso grande problema seja a escassez de grupos organizados, de associações que tentem fazer ou demonstrar para os parlamentares a importância do tema defesa, seja para geração de renda, de emprego, de tecnologia, para geração de tecnologia endógena garantindo um nível mínimo de autonomia estratégica, porque não existe autonomia estratégica sem autonomia tecnológica, então enquanto não houver esse movimento da sociedade civil organizada para demonstrar aos parlamentares que o tema é de interesse de diversos segmentos da sociedade os parlamentares também não terão essa percepção.

Como influencia a falta de previsibilidade orçamentária?

Degaut: Sem resolver essa questão da imprevisibilidade orçamentária ou industrial não se consegue realizar um planejamento estratégico que contém o desenvolvimento de projetos, produtos, contratação de pessoal, participação de processos de licitações internacionais etc. Outra questão que o Brasil ainda não conseguiu avançar é o problema de financiamentos e garantias as exportações, cada exportação de produto de defesa precisa ter alguma forma de garantia, seja um big bond ou o que for, não existe exportação sem a garantia, e normalmente isso reflete o risco país, quando uma empresa qualquer vai exportar, o prêmio que ela vai pagar será mais alto por causa do Risco Brasil. Outra parte muito importante dessa equação é a questão da ausência de uma cultura estratégica, de pensar qual é o lugar do Brasil no mundo, onde iremos chegar, em que horizonte temporal, com que recursos e de que maneira.

Como é gerada essa cultura estratégica?

Degaut: Esse é um tema que não é muito tratado no âmbito da administração pública federal e pela sociedade brasileira, o tema defesa, segurança e indústria, e a forma que o Grupo Edge idealiza para desenvolver capacidades junto com as Forças Armadas Brasileiras, as forças de segurança do governo brasileiro e a indústria brasileira, é criando e mantendo uma grande relação “ganha/ganha” eu não me recordo, e olha que eu tenho 32 anos de experiência na área, de um grupo uma empresa brasileira que tenha colocado dinheiro, recursos próprios para avançar os projetos tecnológicos, os projetos estratégicos das Forças Armadas Brasileiras! Já fizemos isso, estamos fazendo e pretendemos fazer outras vezes mais. Então essa é uma primeira premissa muito importante, parceria, a segunda premissa importante é a geração de emprego e renda no Brasil, nós estamos fazendo um movimento contrário de outros grupos que costumam inclusive levar os grandes cérebros para fora. Nós queremos manter no Brasil essas pessoas, evidenciando o compromisso do grupo com esse projeto, com a sociedade brasileira. A terceira premissa e importantíssima nesse Pilar, é justamente ajudar a base industrial de defesa brasileira a alcançar um novo patamar, a base Industrial se acostumou a pensar em soluções muito originais muito criativas, mas esse é apenas um elemento do problema, nós temos que ampliar não só a capacidade tecnológica, mas também reforçar a inserção internacional.

Como você alcança um novo nível?

Degaut: Isso é extremamente importante hoje, as empresas com as quais nós estamos fazendo parceria participarão de processos de licitação internacionais com o risco prêmio dos Emirados Árabes, que é um risco baixíssimo, e terão acesso a outros mercados, terão recursos para a pesquisa e o desenvolvimento da tecnologia, além da manufatura e comercialização. De nada adianta você ter propriedade intelectual se você não tem primeiro capacidade industrial de desenvolvimento, e segundo, de comercialização, então o Edge Group entra no processo para equacionar alguns desses gargalos.

617726Edge Group estabelece acordos de parcerias institucionais com o Governo do Estado de São Paulo, o mais rico do País. Foto: Edge Group

Como é alcançado o estímulo final, passando do protótipo ao produto acabado pronto para o mercado?

Torres: independente das composições externas, as empresas brasileiras com as quais estamos estabelecendo parcerias terão acesso aos mercados internacionais e ao nosso parque industrial de defesa, pois possuem produtos tecnologias e capacidades superinteressantes. É quando pensamos a nível de Management, o que interessa realmente é o longo prazo, pensar em governança, pensar em profissionalizar o negócio. Temos muito ainda que construir nas empresas de defesa brasileiras, mudar o jeito de gerenciar a empresa, evitar que a forma familiar de gerenciar acabe canibalizando empresas, pois seus gestores só estão pensando no curto prazo.

O que há para fazer?

Torres: Essa é a marca registrada do Edge Group, esse pensamento mais a longo prazo, trazer clientes, gerar network, expandir horizontes e usar de ferramentas adequadas na consecução destes objetivos. Entendemos que apenas as encomendas do estado brasileiro são absolutamente insuficientes para que você dê carga para indústria nacional, o que acontece, em vista dessa dificuldade de se exportar, buscar os mercados, de certa forma, a base Industrial brasileira acabou pensando pequeno, não ampliando os seus horizontes, e pensar de maneira global é fundamental, precisamos alimentar esse olhar diferente sobre a forma de se fazer negócios.

Em que consiste esta nova forma de projetar?

Degaut: Não se pode pensar apenas em um produto específico, mas em soluções completas, hoje o mercado determina isso, e você não pode pensar apenas em um projeto para atender um cliente em um mercado, você tem que pensar em projetos complementares para atender diversos clientes em diversos mercados de diversos lugares, eu estou falando de Mercado Global, as empresas com as quais nós estamos fazendo algum tipo de parceria avisamos “vocês vão mudar de patamar, o seu horizonte não está mais só no Brasil, vai subir para América do Sul ou para América Latina, vamos pensar em círculos concêntricos, vamos atender todo o nosso entorno geopolítico, Brasil, costa da África e também o Oriente Médio, a Ásia do Sul, estamos trazendo um pouco dessa expertise para a indústria brasileira, uma forma de aperfeiçoamento da gestão. Não estou falando de profissionalização! São todos muito profissionais! Falamos de aprimoramento dessa gestão, e isso inclui evidentemente a questão de governança! Nós temos muitas empresas boas no Brasil, mas que são empresas praticamente familiares, é preciso que elas passem por esse processo de maior profissionalização das suas instâncias administrativas e tenham o mundo como horizonte.

Você poderia citar um exemplo?

Torres: Vamos dar um exemplo prático do que o Degaut explicou, tomando como exemplo a Marinha do Brasil, uma força sofisticada que tem relevância com o desenvolvimento de um submarino de propulsão nuclear, que tem Fuzileiros Navais sofisticados, mesmo passando por fases com o orçamento baixo, mas mantendo certa sofisticação e interessante tecnológico. Nossa parceria com a Marinha do Brasil vai além do comprar e vender, se precisarmos testar o nosso produto e demonstrar que ele funciona na Amazônia, região nordeste ou região sul, comprovando que suporta diferentes temperaturas, então isso é muito válido! Inclusive, adianto em primeira mão, semana que vem faremos um importante anúncio sobre como essa parceria vai testar produtos e soluções da Edge de uma maneira extensiva buscando trazer estresse no nosso produto e nos nossos sistemas.

617726Faisal al Bannai, CEO do Edge Group, e o almirante Rogério Lage, comandante do Material de Fuzileiros Navais, durante visita aos EAU. Foto: Edge Group

Você poderia destacar alguns pontos-chave?

Degaut: Vou complementar com dois pontos rápidos, primeiro, a filosofia de acelerar os tempos, nós entendemos que 10 ou 15 anos desenvolvendo um projeto é inconcebível, o projeto tem que estar pronto aí no horizonte de dois anos, dois anos e meio, no mais tardar, e já pensando no produto que irá substituí-lo lá na frente, na sequência. A falta de recurso e previsibilidade orçamentária determinam que quando o produto daquele projeto está pronto, ele está obsoleto! Isso é inconcebível, precisamos acompanhar sempre as necessidades dos nossos clientes e produzir o estado da arte pensando já em sua modernização, então essa é uma filosofia que a gente traz para as empresas nacionais.

E o segundo?

Degaut: O segundo ponto é a flexibilidade. Se uma Força Armada precisa de um produto, fazemos toda a customização necessária e arcamos com todos os encargos desse desenvolvimento, mas não só isso, nós temos recebido aí algumas demandas bem nesse sentido que Rodrigo falou, olha precisamos fazer a demonstração de um produto queremos que vocês fiquem 20 dias com a gente lá na Amazônia ou São Pedro da Aldeia ou São Gabriel da Cachoeira: onde for nós iremos, lá estaremos para fazer a demonstração e o feedback a gente tem aqui, na maioria das vezes, 90 95% dos casos, as outras empresas não vão, nós estaremos lá porque temos absoluto confiança na qualidade das nossas soluções, temos essa capacidade de customização e flexibilidade, e acreditamos no conceito da palavra parceria.

617726O estande do Edge Group durante a LAAD 2023, realizada em abril último no Rio de Janeiro. Firma: Edge Group




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