200 Anos de Diplomacia entre Brasil e Estados Unidos e China cada vez mais presente na América do Sul
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200 Anos de Diplomacia entre Brasil e Estados Unidos e China cada vez mais presente na América do Sul

Os americanos têm se oposto aberta e veementemente a uma possível compra de armamento chinês para as forças armadas brasileiras
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A general de 4 estrelas Laura Richardson, comandante do US Southern Command. Firma: US Southern Command
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Os 200 Anos das Relações Diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos, comemorados em meio ao Exercício Southern Seas 2024 em águas territoriais brasileiras, envolveu um Task Force liderada por um porta-aviões nuclear e escoltas, além da presença de um cutter oceânico da Guarda Costeira (USCG). 

Por trás dessa vitrine diplomática/midiática, acontecia mais um capítulo da intensa disputa travado pelos Estados Unidos contra a crescente influência econômica, política e militar da China na América Latina.

Um dos impulsores dessa política de "cooperação regional" na visão norte-americana, o US Southern Command tem interferido (direta ou indiretamente) nas políticas de segurança e defesa de boa parte dos países "aliados" de Washington" através da sua comandante na atualidade, a general de quatro estrelas Laura J. Richardson, presença constante na América do Sul.

Richardson (2)Cerimônia a bordo do CVN-73 comemora 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. Firma: US Southern Command

Vamos recordar.

Maio de 2023. A comandante do US Southern Command, general Laura Richardson, após um tour na América do Sul que incluiu a Colômbia e o Chile, chegou ao Brasil, onde reuniu-se com os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, o Chefe do Estado Maior Conjunto, função importante no Ministério da Defesa Brasileiro, que aliás, também teve seu encontro com a militar norte-americana, através do ministro José Múcio Monteiro Filho.

Na pauta, a questão do aumento da presença chinesa no País e um maior alinhamento com Pequim, por parte do atual governo brasileiro.

Maio de 2024. A general Richardson e seu congênere na Marinha dos Estados Unidos, o Rear Adm. Jim Aiken, Commander, U.S. Naval Forces Southern Command/U.S. 4th Fleet, colhem dados positivos da primeira etapa do exercício Southern Seas 2024, realizada no litoral do Brasil, onde a presença do porta-aviões nuclear George Washington tornou-se assunto viral em toda a mídia brasileira. 

Novamente, nas entrelinhas do Exercício e das comemorações, a questão chinesa continuou como pano de fundo das conversas entre autoridades, ainda mais com os recentes anúncios de novos acordos espaciais entre Brasil X China, dentre outras movimentações. 

A visita de mais uma comitiva de alto do nível do Exército Brasileiro a China (a 3ª em dois anos), nas próximas semanas, pode ter como consequência a compra de armamento de procedência chinesa para o Exército Brasileiro, o que os americanos abertamente tem se posicionado contra, e de forma veemente.

Richardson usa rio 2024Acompanhada pela embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Bagley, pelo almirante Alexis “Lex” T. Walker, comandante do Task Force 10, e pelo Rear Adm. Jim Aiken, Commander U.S. Naval Forces Southern Command/U.S. 4th Fleet, a general Laura Richardson desembarca no Rio de Janeiro. Firma: Embaixada dos Estados Unidos no Brasil

Após dois caças F-18 Hornet oriundos do CVN-73 sobrevoarem Georgetown, capital da Guiana, que tem parte de seu território "pretendido" pelo governo venezuelano -uma mensagem hard a Caracas- a presença do gigante de 340 metros de comprimento na paisagem das praias da cidade do Rio de Janeiro foi considerada um sucesso, sob a égide das Comemorações dos 200 Anos de Relações Diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos. 

E isso não é qualquer coisa.

200 anosFirma: Embaixada dos Estados Unidos no Brasil

Escudo Anti-China e Anti-Rússia

Richardson tem repetida vezes colocado a questão da presença chinesa na América Latina como uma "ameaça claríssima" a Segurança Nacional dos Estados Unidos, na medida em que empresas daquele País, com incentivo do Governo em Pequim, investem pesado no Brasil, Argentina, Chile e Colômbia, para citar as maiores economias. 

Os chineses passaram a controlar, ou adquiriram, o domínio comercial de compra e envio, para a China, de commodities como minérios, metais estratégicos como o cobiçadíssimo Lítio, alimentos dos mais diversos, e uma série de outros recursos energéticos além de acesso a água potável em quantidade e qualidade, exatamente onde o "calo" dos norte-americanos em geral, e da general Richardson, em particular, "dói horrores".

Gen Richardson visit 750x450 copy 2Firma: U.S. Southern Command

Repetidamente a militar norte-americana cita as riquezas naturais brasileiras como uma fonte de preocupação para o Governo dos Estados Unidos, na medida em que estão alimentando o crescimento industrial e tecnológico da economia chinesa.

Outra vertente, é o maciço aporte de recursos na construção e controle de vastas infra-estruturas de portos, estradas, ferrovias, telecomunicações e exploração comercial do espaço, uma vantagem estratégica que garante o acesso chinês aos recursos que domina no continente, tanto em tempos de paz como em caso de um conflito aberto contra os Estados Unidos.

De fato, a China é o maior parceiro comercial do Brasil, com os Estados Unidos em segundo lugar, e a diferença de valores entre um e outro é cada vez maior em favor dos chineses.

Xi JinpingPivô de uma disputa entre suportências, o presidente da China, Xi Jinping, deve viajar ao Brasil em novembro, para participar da Conferência do G20 e celebrar 50 anos de relações diplomáticas Brasil x China. Firma: Embaixada da China no Brasil

Acredita-se que até 2035, segundo dados fornecidas por Richardson, o comércio da China com a região alcance 300 bilhões de dólares anualmente.

Além da "invasão econômica" chinesa, outro problema que Washington vem enfrentando é a presença da Estação Espacial Chinesa na Argentina, reputadamente identificada como uma instalação de espionagem ELINT/TELINT, SIGINT/COMINT sofisticadíssima, que não ficaria nada a dever para as capacidades de Pine Gap, na Austrália, base compartilhada americana/australiana que espiona a China com a mesma desenvoltura, com forte participação em ações militares em áreas próximas ao território continental chinês.

Neuquen.base  960x540O contrato de locação de 200 hectares tem vigência de 50 anos e pode ser renovado. Pouquíssimos argentinos tem acesso a base chinesa em Neuquen. Firma: CONAE

Localizada na província patagônica de Neuquén, as atividades dessas instalações do Governo Chinês têm sido repetidamente questionadas pelos Estados Unidos através da general Richardson, e fechar ou anular totalmente essa instalação é claramente um dos objetivos da militar a frente do US Southern Command.

Enquanto isso, Pine Gap na Austrália vai muito bem, obrigado, está até no NETFLIX como seriado. 

Importante lembrar: se os Estados Unidos são espionados via Neuquén, é razoável super que o Brasil também é alvo de atividades desse tipo por parte dos chineses, em larga escala, portanto, este também é um problema de Segurança Nacional para o Brasil.

640px Pine Gap by SkyringA contraparte americana de Neuquen se chama Pine Gap, e está no coração da Austrália: espionagem de alta tecnologia, um jogo perigoso onde ambos se acusam de agirem ilegalmente. Firma: Skyring

Troque seu russo por um americano

Em outro ponto de embate, a questão do apoio de países sul americanos a Ucrânia, especialmente aqueles que operam algum tipo de equipamento russo/ucraniano similar, ganhou uma estratégia de duplo sentido: segundo Richardson,quem "doasse" seus helicópteros, tanques, veículos e outros materias de emprego militar com essa origem, receberia em troca material de função equivalente de origem norte-americana, desde que o equipamento a ser enviado a Ucrânia estevisse em condições funcionais. 

Exatamente esse ponto determinou o fracasso dessa iniciativa, pelo menos até o momento, já que a maioria do material militar russo no continente ou está inservível ou passa por sérias deficiências de suprimentos e recursos diversos, pois estes quando existem são massivamente direcionados para a campanha da Ucrânia.

Para complicar o cenário, o atual Governo Brasileiro e seu braço diplomático tem dado repetidos sinais de apoio velado as aspirações expansionistas da Rússia, inclusive impedindo empresas estabelecidas no Brasil de atenderem vultosas encomendas de material militar feitas pelos ucranianos. 

Entre os negócios que não aconteceram por interferência direta de Brasília estão a venda de blindados sobre rodas 6x6 , aviões turboélice de treinamento e ataque leve e munições de artilharia de 155m, para citar os casos mais conhecidos. 

Guarani 6x6. Imagens: Roberto CaiafaCNH IndustrialO Guarani 6x6 na versão ambulância, um dos negócios que o Governo Brasileiro vetou, indo contra a sua Base Industrial de Defesa e agindo em favor de interesses russos na Ucrânia. Firma: Roberto Caiafa

Para o atual Governo, o Brasil deve manter sua neutralidade, não atendendo demandas de países em conflito, o que significa condenar a Base Industrial de Defesa brasileira ao ostracismo em termos de exportações, na corrente contrária do restante do mundo ocidental, e auxiliar "discretamente" os russos, pois essas serão armas e equipamentos que não precisarão enfrentar devido a "camaradagem" do atual Governo Brasileiro com Moscou.

E essa amizade não é de graça. 

Para citar um exemplo, o diesel russo, com preços mais baixos que o de outras praças, tem sido comprado em grandes quantidades pelo Brasil, que tornou-se um dos maiores importadores do combustível produzido por refinarias russas, permitindo a Brasília compensar as oscilações internas do seu mercado energétco e obter ganhos políticos em suas narrativas de propaganda doméstica.

Em janeiro de 2024, as compras brasileiras de diesel totalizaram US$ 500 milhões, um aumento de 462% em relação às importações feitas no mesmo mês de 2023, com o produto respondendo por 66% de todas as vendas russas ao Brasil.

Bolo de Despedida

O encerramento da fase brasileira do Exercício Southern Seas 2024 contou com um baile de gala a bordo do CVN-73 USSGW, onde cerca de 300 convidados prestigiaram a Cerimônia de Comemoração dos 200 anos de Relações Diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos.

Bolo porta avioes maio de 2024O momento do "corte do bolo" no formato do CVN-73, comemorando os 200 Anos de Relações Diplomáticas entre o Brasil e os Estados Unidos. Firma: Embaicada dos Estados Unidos no Brasil

A embaixadora norte-americana no Brasil, Elizabeth Bagley destacou em sua fala a importância da parceria com o Brasil e lembrou os esforços do Governo dos Estados Unidos para colaborar com a ajuda humanitária aos atingidos pelas enchentes no Estado do Rio Grande do Sul (RS). 

“A Marinha dos Estados Unidos estava passando na costa brasileira. Os navios estavam na cidade do Rio de Janeiro e ofereceram o apoio para somar esforços na mobilização que existe em prol das ações de enfrentamento à calamidade do Sul, e isso foi muito bem-vindo”, afirmou o contra-almirante Nelson Leite, comandante da Primeira Divisão da Esquadra da Marinha do Brasil.

WhatsApp Image 2024 05 27 at 21.41.33O NAM Atlântico e o CVN-73 navegando próximos, no litoral do Rio Grande do Sul. Firma: Marinha do Brasil

O porta-aviões norte americano George Washington demandou águas mais ao sul transportando 15 toneladas de alimentos, ração animal, água e itens de higiene e limpeza destinados a ajuda humanitária

A transferência dessa carga envolveu o Navio Aeródromo Multipropósito Atlântico, que já estava no litoral gaúcho apoiando as operações, e os helicópteros que operam a bordo do navio brasileiro, apoiados por mais aeronaves da US Navy embarcados no CVN-73. 

Essa frota realizou 31 viagens de transferência de carga na modalidade VERTREP (ressuprimento vertical) entre os navios.

Richardson usa sp embraer 2024No dia 23 de maio, Richardson visitou a sede da Embraer em São José dos Campos, e a sua concorrente Boeing, que possui um Centro de Engenharia e Pesquisa na cidade. Firma: US Southern Command



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