No dia 27 de abril de 2023, o Ministério da Defesa da Ucrânia solicitou ao Governo Brasileiro, através de documento diplomático reservado, a produção de 450 veículos blindados Guarani 6x6 na configuração de ambulância ou Vatura Blindada de Transporte Especializado Ambulância (VBTE AMB). No entanto, essa remessa acabou sendo negada, gerando dúvidas na comunidade internacional.
Enfatizou-se que os veículos blindados seriam pintados nas cores laranja e amarelo, ou seja, cores de alta visibilidade, pois estes blindados seriam destinados à evacuação da população civil e remoção dos feridos das linhas de frente para hospitais a retaguarda.
O mesmo documento especificava que o valor envolvido na compra dos veículos seria pago por aliados da Ucrânia, além de apresentar garantias de que os blindados só seriam utilizados para fins humanitários e não para missões de combate.
Reprodução do Documento Diplomático. Montagem: Infodefensa.com
Em meados do mês de maio, o Departamento de Assuntos Estratégicos, de Defesa e de Desarmamento do Itamaraty deu parecer contrario a solicitação de compra de até 450 Viaturas Blindadas de Transporte Especializadas–Ambulância (VBTE AMB) 6X6 Guarani, feita pelo Governo da Ucrânia, e, na ultima semana de junho, a empresa IDV foi informada oficialmente da negativa de sua solicitação de autorização para iniciar as negociações. Praticamente dois meses de procrastinação por parte das autoridades do Governo Brasileiro, até a entrega formal da negativa.
Essa resposta negativa do Governo Brasileiro resultou em constrangimentos diplomáticos que abalaram bastante a confiança de líderes europeus quanto as intenções do Brasil em relação a sua política internacional para o conflito na Ucrânia, a situação chegando ao extremo quando da visita do primeiro ministro da Holanda, Mark Rutte, ao País.
No dia nove de maio, durante coletiva de imprensa com os dois dignatários, quando perguntado sobre as 450 ambulâncias, notícia veiculada originalmente pelo especialista em blindados Paulo Bastos, da revista Tecnologia & Defesa (publicação brasileira parceira de Infodefensa.com), o presidente brasileiro, afirmou categoricamente que tratava-se de fake news.
A reação do primeiro ministro holandês, visível no vídeo, foi de surpresa, inicialmente, e a seguir um contrariado Rutte pediu o uso da palavra e desautorizou a fala do líder brasileiro, lembrando que no momento onde a União Européia enfrenta uma ameaça a sua segurança, e considerando que a Europa como um todo é parceira estratégica em diversos programas militares brasileiros, seria fundamental o Brasil assumir uma posição mais clara com relação a Ucrânia e as expectatvas sobre isso dos aliados europeus.
Essa dubiedade do dirigente brasileiro vem custando caro a Base Industrial de Defesa nacional em termos de oportunidades perdidas, o presidente anterior, que deixou o cargo ao final de 2022, também não se posicionou de forma clara com relação ao apoio do Brasil a Ucrânia, preferindo ir a Moscou negociar carregamentos de fertilizantes para o agronegócio brasileiro e mesmo "solicitar apoio" dos russos (sic) para a conclusão do reator nuclear em desenvolvimento há décadas para equipar o primeiro submarino de propulsão nuclear da Marinha do Brasil, responsável por desenvolver boa parte da tecnologia nuclear 100% brasileira.
Corte Esquemático do Guarani 6x6. O conjunto Nº 10 inclui o componenente alemão embargado. Arte: EB
Outro revés acontecido no início de 2023, as sanções impostas a IDV pela Alemanha, devido a presença de componentes germânicos no blindado sobre rodas 6x6 Guarani que seriam exportados para a Filipinas com os israelenses da Elbit Systems atuando como intermediadores do negócio.
A explicação oficial do Governo Alemão, após a enorme repercussão negativa no Brasil, foi que o Escritório Governamental de Controle de Exportação da Alemanha, ou BAFA (Bundesamt für Wirtschaft und Ausfuhrkontrolle) havia embargado à exportação de 28 viaturas blindadas de transporte de pessoal média sobre rodas (VBTP-MSR) 6X6 Guarani para as Filipinas por que estas possuíam componentes militares de origem alemã, portanto, sujeitas ao seu controle de exportação. E as Filipinas estavam e estão na lista de "embargáveis" de Berlim.
O Powertrain do Guarani 6x6 com sua transmissão em H: busca por novos componentes. Arte: EB
Para tentar contornar ou minimizar esse tipo de situação, a Diretoria de Fabricação (DF) do Exército Brasileiro e a Iveco Defense Vehicles (IDV) lançaram e estão a trabalhar no Projeto Guarani 2.0 de melhorias de meia vida útil do veículo e substituição dos componentes de origem alemã, dessa forma evitando que tal situação se repita com relação as exportações futuras do Guarani.
O blindado foi exportado recentemente para Gana, nas mesmas condições, e sua produção deverá ser iniciada brevemente. Os contratos atualmente sendo negociados entre o Brasil e a Argentina, a Malásia e outros países também precisam dessa solução o mais rapidamente possível.
O Líbano, que já opera 16 exemplares do carro em funções de segurança de chefe de estado, também deverá ser incluído nesse programa de toca de componentes alemães "embargáveis" por outros livres de qualquer restrição.
VBTP-MSR 6x6 Guarani tal como sai de fábrica (green), sem a integração de torre, armamentos ou sensores. Arte: EB