KMW não exclui uma linha de tanques com "DNA brasileiro"

Santa Maria, cidade localizada no centro do estado do Rio Grande do Sul e conhecida nos meios militares brasileiros como a Capital dos Blindados, abriga unidades de cavalaria e seus carros de combate, infantaria, engenharia e artilharia blindada e seus veículos, e o moderno Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBlind), organização militar com alto padrão tecnológico e profissional, voltada para a formação do combatente blindado no Exército Brasileiro (EB).

As unidades operadoras dos carros de combate Leopard 1A5 BR estão concentradas na região sul do País, incluindo aí os carros Gepard antiaéreos (canhão duplo de 35 mm e radares de busca e guiamento do tiro), e as versões especializadas escola, oficina esgate, engenharia e lança-pontes, baseadas no chassi do Leopard 1A5 BR. No total, foram adquiridas 220 VBC-CC Leopard 1A5, sete Viaturas Blindadas Especializadas Socorro (VBE Soc), quatro Viaturas Blindadas Especializadas Lança-Pontes (VBE L Pnt), quatro Viaturas Blindadas de Combate de Engenharia (VBC Eng) e quatro Viaturas Blindadas Escola de Motorista, todas entregues até fevereiro de 2012. O contrato de compra e apoio foi estabelecido pelo Governo Brasileiro, por intermédio do Ministério da Defesa, com o Governo da Alemanha, visando o reaparelhamento e modernização das Unidades Blindadas do EB. Na atualidade, o mantenimento desses blindados, fabricados pela alemã Krauss-Maffei Wegmann GmbH & Co (KMW) encontra-se diluído entre as quatro unidades operadoras e o Parque Regional de Manutenção 3, baseado em Santa Maria. Em setembro próximo, esse quadro vai mudar.

KMW do Brasil

Infodefensa.com esteve na fábrica da KMW do Brasil Sistemas de Defesa Ltda, às margens da BR-287, a três quilômetros da Faculdade Ulbra, onde conversou com Christian Boege, diretor da empresa para o Brasil, e registrou antes mesmo da inauguração, as suas modernas dependências. Segundo Boege “Essas instalações deverão ser inauguradas até setembro corrente com 38 funcionários. No fim de 2015, serão 75. Em 2016, mais de 100 trabalhadores estarão ajudando a manter os blindados da família Leopard, o sistema de defesa antiaérea Gepard e os equipamentos de simulação da KMW adquiridos pelo Exército e empregados no Centro de Instrução de Blindados. Também contratamos 10 engenheiros de software para trabalhar na obtenção de novos produtos brasileiros na área de simulação, dando origem a Divisão de Treinamento e Simulação da empresa, que deverá ocupar brevemente instalações no Santa Maria Tecnoparque.

A KMW vem investindo em pesquisa, desenvolvimento e conhecimento, através de parcerias com instituições acadêmicas da região, e as modernas instalações comprovam o discurso com viés de longo prazo, criar sólidas bases na cidade gaúcha. A instalação deste centro de desenvolvimento, fabricação e manutenção é um grande marco, porque é a primeira vez, na história da KMW, que uma subsidiária tem uma fabrica fora da Alemanha. Este importante passo consolida a posição de Santa Maria como centro operacional e logístico da KMW para o Brasil e a América do Sul, uma vez que já existem blindados da família Leopard no Chile e promissores projetos com outros países sul-americanos.

As instalações de Santa Maria e as que estão sendo erguidas no Qatar são hoje, exemplos concretos da filosofia pense global, atue localmente. Deve-se acrescentar que a KMW já tem definido no papel o plano de investimentos e ampliações contínuas pelos próximos 15 anos, seguindo a estratégia da internacionalização. Serão novas atividades, novas joint-ventures e outras parcerias com empresas brasileiras, que poderão resultar no desenvolvimento de uma nova linha de blindados com DNA tipicamente brasileiro, ou a fabricação de produtos do portfólio da empresa, em solo brasileiro, visando o mercado interno e exportações”.

Instalações

As três construções principais já prontas englobam uma estação de lavagem e recolhimento de líquidos e efluentes originados dos blindados (com tanques de recolhimento e tratamento subterrâneos), um prédio hermeticamente selado para a realização de trabalhos de descontaminação de viaturas (uma por vez), e o prédio principal dotado de pé direito imenso, climatização com ar-condicionado e aquecedores, ambos rigidamente controlados para manter em 22º a temperatura interna, duas pontes rolantes de 25 toneladas cada, e estações de trabalho para atender até doze carros (seis + seis), tudo servido por iluminação com amplo uso de luz natural, tornando o ambiente o mais funcional possível. O piso, tanto internamente quanto externamente, está preparado para suportar o peso de centenas de toneladas por metro quadrado, o que significa que ali podem ser realizadas tanto atividades previstas de manutenção dos Leopard e Gepard já existentes (e mesmo de modelos de outros fabricantes), como a montagem ou fabricação de outros tipos de veículos blindados.

O terreno já tem reservado o espaço do quarto prédio, previsto para a próxima fase, de expansão das instalações, e para a construção da pista de testes, extensa o suficiente para permitir que os blindados acelerem ao máximo para frear bruscamente na sequência, testando assim suspensão, freios e sistema de giroestabilização da torre, no caso de carros de combate Leopard 1A5.

Para a eventualidade de ser necessário combater um incêndio, a unidade da KMW conta com um poço artesiano que funciona como um pequeno lago e reserva de água para emergências. Equipamentos de segurança para descontaminação de pele e olhos também estão acessíveis em todos os postos de trabalho. A parte administrativa das instalações concentram as dependências da direção, salas de reunião e de treinamento, etc. No telhado do edifício principal, uma usina de ar-condicionado recebe a ajuda de venezianas especialmente projetadas para reter calor ou dissipar o frio, dependendo das condições climáticas externas. Todos os edifícios possuem monitoramento de energia inteligente e segurança reforçada.

Fotos: Roberto Caiafa